Título: Se alguém quiser romper conosco, que rompa, afirma Lula sobre aliados
Autor: Stuckert, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2013, Nacional, p. A4

Em campanha. Determinado a manter os partidos da coalizão unidos pelo projeto de reeleição de Dilma, o ex-presidente disse ontem, em referência a uma eventual candidatura de Eduardo Campos, que a aliança com o PSB é estratégica e não deveria ser colocada em risco

Com intuito de conter rebeliões da base aliada que possam prejudicar o projeto da reeleição de Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem a mais contundente declaração aos partidos da coalizão, interpretada como um recado direto ao governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos: "Se alguém quiser romper conosco, que rompa".

Lula fez a afirmação numa reunião fechadado Diretório Nacional do PT, em Fortaleza. "Não queremos romper com ninguém. Queremos fortalecer, só que não podemos impedir as pessoas de fazer o que é de interesse dos partidos políticos. O ideal é que a gente consolide as forças políticas que estão ajudando esse país a mudar", acrescentou.

Campos estuda a possibilidade deselançar candidato à Presidência, mas não quer antecipar a decisão para 2013 e já avisou que permanecerá na base ao longo deste ano. O PSB detém dois ministérios no governo Dilma (Integração Nacional e Portos) e não pretende entregar os cargos.

Apósa reunião doPT,em rápida conversa com jornalistas, Lula elogiou Campos, de quem disse ser "muito, muito amigo". "(O governador) tem uma personalidade que pode desejar qualquer coisa que ele queira nesse País". Mas, em seguida, afirmou ser preciso avaliar "se estrategicamente PT e PSB devem colocar em risco uma aliança que tem dado tão certo nesse País".

O petista, contudo, disse defender a "liberdade incondicional de cada partido de fazer o que bem entenda" e declarou que não impediria qualquer aliado de se candidatar. "Teimei muitasvezes, perdi muitasvezes até chegar à Presidência da República. Portanto, eujamais tomaria qualquer atitude para impedir que um companheiro fosse candidato a presidente."

Em Pernambuco, Eduardo Campos criticou o PT por ter antecipado a campanha presidencial (leiaabaixo).Lulalançou Dilma à reeleição na festa de 33 anos do PT, comemorada no dia 20 de fevereiro. Desde então, o ex-presidente tem enaltecido os partidos que integram a base aliada e reafirmado a tese de que o "êxito" dos governos petistas se deve ao amplo leque de alianças que ele construiu.

Trombadas. Ao lembrar que faltam dois anos para a eleição de 2014, o ex-presidente afirmou que, à essa altura, se os partidos ficarem "fazendo a política do "diz que diz" ou do "diz que não diz" vão dar trombada desnecessariamente". Lula também sustentouque o ano de 2013 seráain-da mas importante do que o ano que vem porque é nele que os petistas vão consolidar a candidatura de Dilma. "Mas será um ano complicado de alianças". O ex-presidente disse ainda que Dilma e Eduardo tem uma boa relação, que vão conversar sobre o assunto, e que, "entre mortos e feridos, todos se salvarão".

Dissidente do PSB. Ao sair da reunião do diretório nacional, Lula foi recebido pelo governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), que se deslocou até o hotel onde ocorria o evento para buscar o ex-presidente e levá-lo para um almoço e uma agenda na cidade de Redenção (CE).

Embora filiado ao mesmo PSB de Eduardo Campos, Cid defende que seupartido apoie a reeleição de Dilma - ele sustenta que o pernambucano ainda "precisa de chão" para ser candidato a presidente e afirma que Campos deve ser o vice na chapa petista.

Além de viajar com Lula, Cid foi recebido nesta semana em audiência pela presidente Dilma em Brasília. Ela e o presidente tentam atrair os irmãos Cide Ciro Gomes como forma de tentar minar a eventual postulação de Eduardo Campos.

Vice. O presidente do PT, Rui Falcão, ao ser questionado ontem sobre a possibilidade de Eduardo service na chapa de Dilma, pôs-se a elogiar o atual vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). "Queremos manter uma relação muito positiva e efetiva (com o PSB) como tem sido a nossa tradição", disse, e emendou: "O vice quem vai escolher não sou eu. Acho que o vice-presidente Michel Temer tem colaborado muito com a presidenta Dilma, tem cumprido missões importantes do governo, como essa em que tem sido designado por ela para coordenar as relações comerciais com a Rússia. E acho que ele tem sido um bom vice".

Na semana passada, após reunião com Lula, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique EduardoAlves (PMDB-RN), afirmou que Lula sinalizou que a vice de Dilma continuaria com o PMDB, e nas mãos de Temer.

Questionado ontem sobre as declarações de Alves, Lula devolveu: "Deixa eu falar uma coisa em alto e bom som: quem escolhe vice é a presidenta, não sou eu. Quando fui presidente, escolhi duas vezes o meu vice, o Zé Alencar. E jamais eu iriae scolher o vice pra Dilma".