Título: Investimento caiu 4% no ano e foi vilão do resultado do PIB
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2013, Economia, p. B1

Apesar da queda em relação a 2011, pequena recuperação no quarto trimestre (0,5%) foi considerada positiva por analistas

Os investimentos foram o vilão do baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado. A formação bruta de capital fixo (FBCF, conta que mede os investimentos na economia) recuou 4% em relação a 2011, mas a pequena recuperação no quarto trimestre em relação ao terceiro (0,5%) foi considerada positiva por analistas. Uma retomada pode estar em curso.

A queda em 2012 como um todo fez a taxa de investimento cair para 18,1% em relação ao PIB, o mesmo nível de 2009 e o segundo recuo anual consecutivo. A expectativa é que a retomada no quarto trimestre eleve a taxa.

Para o chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Samuel Pessôa, virar o ano já com aumento nos investimentos em relação ao terceiro trimestre, é uma “excelente notícia, pois sugere que a retomada começou já no quarto trimestre do ano passado, mesmo que timidamente”.

O resultado positivo no fim do ano quebrou uma seqüência de quatro quedas trimestrais seguidas. A última vez que os investimentos recuaram por quatro trimestres foi entre o final de 2001 e início de 2002.

“Finalmente os investimentos saíram do buraco”, disse o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, para quem a alta no fim de 2012 é um “sinal alvissareiro” para este ano.

A equipe da LCA projeta alta de 8% nos investimentos, segundo Borges, que relativiza o que pode parecer ser um salto. “A base de comparação é baixa. É crescer 8% após cair 4%.”

Estímulos. O principal motivo para apostar na recuperação são as medidas adotadas no fim de 2012 pelo governo, como os juros negativos nos empréstimos para máquinas e equipamentos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No entanto, a força da retomada dos investimentos não é consenso.

Antes dos dados do IBGE, o Ibre/FGV previa expansão de apenas 3% neste ano e só revisará os números na próxima semana. O economista José Luís Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), vê os investimentos crescendo mais do que o PIB, mas não a ponto de puxarem um ciclo de desenvolvimento.

Dados do BNDES apontam para investimentos em alta. “Já esperávamos uma alta no quarto trimestre”, disse Francisco Eduardo Pires de Souza, economista da Área de Planejamento do BNDES. As aprovações de empréstimos pelo banco, que cresceram 58% em 2012 sobre 2011, mantiveram o ritmo em janeiro passado, com alta de 56% sobre igual mês de 2012.

O principal motivo para a queda de 4% nos investimentos em 2012 foram justamente os aportes em máquinas e equipamentos. Os investimentos em maquinário recuaram 9,1%, com menos espaço para a produção nacional desses bens, enquanto a construção civil - também incluída na FBCF - cresceu 1,9% na comparação com 2011.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, atribuiu a perda da competitividade da indústria nacional de bens de capital principalmente ao câmbio.

“Posso ter as melhores máquinas do mundo, as melhores cabeças, os melhores choques de gestão, mas com esse câmbio perco toda a competitividade”, disse Aubert Neto.