Título: Dados oficiais de 2012 já influenciam previsões para 2013
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2013, Economia, p. B1

Maioria dos analistas manteve projeções inalteradas, mas algumas instituições vão revisar para baixo estimativas para o PIB deste ano.

Embora o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2012 (e, por tabela, do ano todo) tenha vindo dentro das expectativas, a abertura dos números levou alguns analistas a colocar um viés de baixa nas previsões de crescimento para este ano. A maioria dos especialistas, porém, preferiu manter a estimativa com que já trabalhava, à espera de mais dados sobre o comportamento da atividade nos próximos meses.

Uma das casas que devem revisar para baixo a projeção para este ano é a Tendências Consultoria, segundo um de seus sócios, o ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Loyola. Hoje, a estimativa é de uma expansão de 3,2%. "Com base nos dados de 2012, acreditamos que o crescimento deste ano está mais para perto de 3%, talvez 2,9%", disse. A mudança oficial do número deve ser feita na semana que vem.

Para o economista, o resultado do 4.º trimestre do ano passado confirmou que há uma recuperação em curso, mas ainda lenta. "Quem acreditava em uma alta de 4% em 2013 pode tirar o cavalinho da chuva", afirmou.

A avaliação de Loyola e de seus colegas da Tendências é amparada na retomada apenas modesta dos investimentos. No ano passado inteiro, a chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) caiu 4% ante 2011. No quarto trimestre, o indicador cresceu 0,5% em relação aos três meses anteriores, um ritmo moderado.

Também ex-presidente do BC, o economista Affonso Celso Pastore não vai alterar, por ora, sua projeção de crescimento do PIB de 2013, que está em 3%. Mas observa que ficou mais difícil alcançar esse número.

"Na margem (ou seja, quando se compara um trimestre com o imediatamente anterior), não estamos apontando para os 3% em 2013", afirmou.

A MB Associados, que tem como sócio José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, também deixará inalterada, por enquanto, a previsão de crescimento de 3% para 2013. "É certo que o PIB será melhor que o do ano passado, mas ainda há muitas dúvidas no horizonte", disse ele.

De um lado, afirmou, há boas notícias, como as mudanças nas regras das concessões pelo governo, que tornaram as oportunidades mais atraentes para o setor privado. De outro lado, observou, há um "mal-estar no ambiente de negócios", que tem na raiz fatores como a contabilidade "criativa" usada pelo governo em 2012 para fechar as contas públicas e as intervenções na área de energia elétrica. "Ainda não está claro para onde vai pender essa balança", disse.

Os dois pontos destacados por Mendonça de Barros têm relação direta com os investimentos, considerados chave para permitir um crescimento mais forte do País. Não é à toa que autoridades da área econômica têm viajado o mundo para "vender" o Brasil.

Otimismo. É justamente por causa de uma expectativa de investimentos mais fortes em 2013 que o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, decidiu manter a projeção de alta do PIB em 3,5% - um número que ele mesmo reconhece estar acima da média do mercado.

"Nosso ponto é que os indicadores antecedentes de investimentos, como desembolsos e consultas do BNDES, têm sido expressivos nos últimos meses", disse Borges. "Por isso, mantemos a estimativa de um avanço de 8% dos investimentos em relação ao ano passado, o que sustenta nossa projeção de uma expansão de 3,5% para o PIB."

O economista-chefe do banco Santander, Maurício Molan, também vê indícios de que os investimentos terão um bom desempenho em 2013. "A confiança do empresário está aumentando e, no ano passado, setores importantes apresentaram uma queda importante dos estoques", afirmou. A projeção do Santander é de que o PIB cresça 3% neste ano. "Não vamos mudar essa estimativa por causa dos números oficiais de 2012."