Título: Indústria cai 0,8% e recua ao nível de produção de 2009
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2013, Economia, p. B1

Resultado do setor industrial só não foi pior porque houve crescimento em alguns ramos, como o da construção civil

A indústria de transformação regrediu três anos em 2012, retomando patamares de desempenho equivalentes aos do fim de 2009, e puxou com ela o setor industrial como um todo, que registrou uma queda de 0,8% no Produto Interno Bruto (PIB), informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os resultados negativos na indústria extrativa e de transformação afetaram o PIB industrial em 2012, segundo o IBGE. Enquanto a extrativa mineral recuou 1,1%, a indústria de transformação teve queda de 2,596 (pior resultado entre todos os 12 subsetores do PIB). O resultado da indústria como um todo só não foi pior porque houve crescimento em alguns subsetores, como a construção civil. “A construção civil colaborou para a Formação Bruta de Capital Fixo (investimento)”, lembrou Roberto Olinto Ramos, coordenador de Contas Nacionais do IBGE. “O fato é que está tendo crescimento de renda real, e isso impacta a construção.”

A oferta excessiva de produtos no mercado internacional e as margens apertadas da indústria, obrigada a acompanhar a alta dos salários do setor de serviços, pressionaram os resultados do setor.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, avaliou que a retração da indústria registrada em 2012 ficou para trás. “Não esperamos novo resultado negativo. Pelo contrário, teremos um crescimento entre 2,5% e 3%.” Ele citou a queda dos juros, o câmbio mais favorável e a queda no custo da energia a partir deste mês.

Investimentos. A alta de 0,4% do PIB da indústria na passagem do terceiro para o quarto trimestre e a expansão do investimento na mesma comparação apontam para um 2013 melhor. Segundo industriais ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o crescimento do setor está atrelado aos investimentos, que não saem, por ora, do papel.

“O governo sinalizou que investirá pesado em infraestrutura, além de fazer ampla parceria com a iniciativa privada. Essas primeiras medidas foram corretas para reverter o quadro de baixo crescimento”, afirmou o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão.

O desestímulo recente aos investimentos estaria ligado à decepção com o ritmo da economia nos últimos anos. “Alguns anos atrás, previa-se crescimento superior ao registrado. A expansão não aconteceu e a indústria ainda precisa maturar o que foi feito no passado”, relembrou o presidente da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), Ricardo Trombini.

Em parte, por isso, as apostas da indústria recaem sobre os projetos de infraestrutura. Simão, da CBIC, acredita que sairão do papel os programas de concessões para portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, anunciados nos últimos meses pelo governo federal. O processo, no entanto, é lento e pode empurrar as obras para o segundo semestre.

“É necessário liberar as amarras que existem para conseguir licenças e para a realização de obras”, destacou o diretor executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (Sinditelebrasil), Eduardo Levy.

Nos cálculos do presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate, caso seja cumprido o cronograma de projetos do governo, os investimentos em infraestrutura (exceto energia) devem dobrar já em 2013. /André MAGNABOSCO, CIRCE BONATELLI, FERNANDA NUNES, KELLEN MORAES, LUCIANA COLLET, MÔNICA CIARELLI, VINÍCIUS NEDER E WLADIMIR D"ANDRADE