Título: Brasileiro foi às compras e ajudou a expandir serviços
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2013, Economia, p. B1

Famílias consumiram 3,1% mais, mas avanço pode ter chegado ao limite

Com melhores salá­rios e condições de crédito, o brasileiro foi às compras e sus­tentou a economia em 2012. Adquiriu mais celulares e tele­visores, acessou mais a inter­net, frequentou mais restaurantes. Ao todo, a família brasileira consumiu 3,1% mais no ano passado do que no ante­rior, principalmente serviços de informação, contrariando as perspectivas mais pessimistas de que a política econômica de incentivo ao consumo se aproxi­mava do esgotamento. Por tabe­la, carregou o setor de serviços, que avançou 1,7% em 2012.

A estudante de pós-graduação Anastácia Santos é um exemplo de brasileira que consumiu no­vos serviços no ano passado, quando passou a receber bolsa de estudo da Capes. Em vez de recorrer a sebos de livros, como antes, passou a frequentar livra­rias e adquirir livros novos - "umluxo", segundo ela.

Herança do governo Lula, a nova classe média ainda rendeu lou­ros no segundo ano de governo da presidente Dilma Rousseff. Porém, o questionamento hoje é sobre a capacidade desse grupo de estreantes no mercado consu­midor continuar contribuindo com a expansão da economia.

"Há um movimento geral de desaceleração da economia. Será que o mercado de trabalho, que vem empurrando o consumo das famílias e o setor de serviços, não atingiu o limite?", ressalta o economista do Instituto Brasi­leiro de Economia da Funda­ção Getúlio Vargas (Ibre/ FGV) Silvio Salles.

Naverdade, embora o PIB de Serviços tenha superado com folga a indústria e a agropecuá­ria no ano passado, o ritmo é de desaceleração. O resultado de serviços de 2012 foi o menor desde 2003 (0,8%). Sales ques­tiona também o quanto os seg­mentos de serviços que estão crescendo são capazes de agre­gar valor à economia.

O grupo de "outros serviços", o de maior peso n osetor, com 22,6% de participação no total no ano passado, é caracte­rizado por ser um grande em­pregador, porém de uma mão de obra menos qualificada, com menos produtividade. É um segmento bastante hetero­gêneo, que engloba desde sa­lão de beleza até escritório de advocacia.

O comércio, o mais destaca­do dos serviços, em 2012 não foi tão bem, avançou apenas 1%, menos do que no ano ante­rior (3,4%). "As vendas estão desacelerando. A tal recupera­ção do nível de atividade não chegou ao comércio. Nunca o comércio fechou tantas vagas como em janeiro deste ano", destaca o economista da Confederação Nacional do Comércio Fábio Bentes.

São muitas as incertezas so­bre a continuidade do cresci­mento do setor a partir deste ano, não só porque o mercado de trabalho e a consequente expansão da renda parecem ter atingido o limite, mas tam­bém porque o governo já não está tão disposto a continuar incentivando o consumo e, com isso, comprometer as me­tas de inflação.