Título: PIB tem pior resultado desde Collor
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2013, Economia, p. B1

Expansão da economia é de apenas 1,8% nos dois primeiros anos do governo de Dilma, inferior à de Lula e de FHC no mesmo período

Vinícius Neder /Rio

A presidente Dilma Rousseff encerrou os dois primeiros anos de seu mandato com crescimento médio anual do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 1,8%, desempenho que só não foi pior que o início do governo do presidente Fernando Collor de Mello.

Nos dois primeiros anos do primeiro e do segundo mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, essa média foi de, respectivamente, 3,4% e 5,6%, e nos de Fernando Henrique Cardoso, de 3,2% e 2,3%. Já no de Collor, ficou em (3,25% (leia quadro ao lado).

Considerando uma expansão do PIB de 3% este ano (possibilidade colocada em dúvida por alguns economistas) e de 4% no próximo, o governo Dilma fecharia seu mandato em 2014 com crescimento médio anual de 2,6%. É quase a metade dos 496 a 5% pretendidos pela presidente.

No front externo, a comparação também é desfavorável ao Brasil, pois, embora economistas ligados ao governo geralmente associem o baixo crescimento brasileiro à crise internacional, o crescimento de 0,9% do PIB do Brasil em 2012 foi o pior entre os países do Bric - que inclui também Rússia, índia e China - e fincou acima apenas do resultado na Europa.

A China, por exemplo, avançou 7,8%, enquanto a economia Mundial cresceu 3,2% no ano passado. No conjunto dos países da zona do euro, a economia encolheu 0,5%. “O mais importante é que a crise foi externa, não interna. Desta vez, a crise foi produzida lá fora e tivemos resposta muito boa à crise, mas é inevitável que a economia desacelere”, comentou em Brasília o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Críticos da política econômica citam a comparação internacional para dizer que fatores internos pesam mais na desaceleração da economia brasileira do que a crise externa. Mesmo na América Latina o crescimento foi maior: o PIB do México avançou 3,9% ano passado.

Segundo Felipe Queiroz, economista da agência de risco Austin Rating, a crise internacional e o baixo crescimento nos países desenvolvidos afetam sim os países emergentes como o Brasil. Nesse contexto, as economias emergentes se voltaram para seus mercados internos.

A diferença do Brasil para os demais Brics está na estrutura da economia e na condução da política econômica, diz Queiroz.

“Aqui, ainda temos uma baixa taxa de poupança, dependemos de recursos externos e ficamos vulneráveis a ânimos e expectativas de investidores internacionais de curto prazo.” Por sua vez, índia e China crescem com pesados investimentos.

Segundo Queiroz, a taxa de investimento da índia está em 34% do PIB. Na China é de 48%. No Brasil, ficou em apenas 18,1%. Assim, embora tenha um mercado interno grande e em expansão, o avanço do consumo no Brasil acaba sendo suprido por produtos de outros países, sobretudo na indústria.

Comparação. O coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Luís Olinto Ramos, disse não ser possível afirmar, pela comparação internacional, que as demais economias emergentes são menos afetadas pela crise internacional do que a brasileira. “Olhando 2012, o que a gente pode analisar é que há um crescimento pequeno de importações e exportações. Então, a relação com o resto do mundo, mal ou bem, teve algum problema.” Além disso, segundo Olinto, seria preciso verificar, no detalhe, qual a composição do crescimento dos demais países. “Onde o México cresceu? (A economia) do México é fortemente baseada em exportação aos EUA. Para explicar o México, teria de entender melhor a economia de lá.” / COLABORARAM CÉLIA FROUFE, RENATA VERÍSSIMO, ADRIANA FERNANDES e EDUARDO RODRIGUES