Título: Aécio não pode esperar 2014, dizem governadores
Autor: Duailibi, Julia
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2013, Nacional, p. A10
Apontada como "natural", candidatura de senador deve ser definida ainda neste ano, dizem líderes tucanos; para eles, mineiro precisa ganhar projeção nacional
Governadores do PSDB querem que o candidato do partido à Presidência da República seja definido ainda neste ano. Embora a candidatura do senador Aécio Neves (MG) seja apontada como natural, chefes de oposição dizem ser favoráveis à prévia, caso haja mais um postulante à indicação - mas desde que a disputa interna seja feita ainda em 2013.
"Em muitas regiões o grau de conhecimento dele (Aécio) é baixo. Acho que é hora, sim, dele aparecer mais, apresentar propostas e alternativas que o PSDB tem para oferecer ao País", declarou o governador do Paraná, Beto Richa. "Para quem quer se firmar como candidato de oposição o timing é diferente, tem que começar num prazo maior. Acho que é prudente, se for o caso, prévias neste ano e já entra com candidatura no ano que vem."
Na semana passada, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva alimentaram uma polêmica sobre os modos de gestão tucano e petista. O pano de fundo foi a antecipação da defesa de seus candidatos à eleição de 2014, Aécio e a presidente Dilma Rousseff, respectivamente.
"Sabemos que um candidato identificado mais cedo tem prós e contras. É o dado da realidade. Eu, pessoalmente, acho que devemos iniciar o ano sabendo quem seria", declarou o governador de Minas, Antonio Anastasia, aliado de Aécio. "Não dá para fazer como em 2010: chegar em maio e definir o candidato. Não dá tempo de construir uma candidatura a presidente, faltando 30 dias para convenções", disse Anchieta Jr., governador de Roraima.
"Concordo que as prévias devam acontecer neste ano. Isso não tira pedaço de ninguém. Pelo contrário. As prévias fortalecem o partido e as bases, oxigenam", disse o governador de Goiás, Marconi Perillo.
A declaração dos governadores tucanos sobre a escolha do candidato do PSDB neste ano, ainda que por prévias, é apoiada por FHC e pelo presidente do partido, Sérgio Guerra, que querem lançar Aécio candidato. Avaliam que o senador precisa ganhar projeção nacional e construir uma estrutura de campanha. O paulista Geraldo Alckmin critica a antecipação do debate eleitoral, mas também defende a realização das prévias em 2013.
Quanto à candidatura de Aécio, Alckmin ainda não se posicionou publicamente. Em encontro com Aécio e Guerra disse não ser contra a candidatura do mineiro e sugeriu que ele percorra o País.
Os governadores apontam Aécio como o candidato à sucessão, apesar de dizerem que o partido está aberto a "outras candidaturas". "Sou uma liderança disciplinada. Concordo que tem que haver fila, e a fila andou. O candidato, ao meu ver, tem que ser Aécio", disse Perillo. "Aécio é a bola da vez", avalia Richa.
Questionados sobre o discurso de oposição de Aécio, que ainda não empolga o partido, os tucanos falam em questão de tempo e de estilo. "Aécio vai buscar sintonia fina. Começou agora a se apresentar como candidato. Isso vai se afinando com o tempo", defende Richa. "É uma questão de estilo. Pela própria natureza, o mineiro age diferente. Temos que respeitar a personalidade de cada um. Não vejo ele titubear", declarou Anchieta.
Legado. Depois de duas campanhas presidenciais em que o PSDB escondeu o legado de FHC, agora os governadores vão defender a gestão do ex-presidente, citando estabilidade monetária, a Lei de Responsabilidade Fiscal e até as privatizações como vitrines do partido.
"O Plano Real, a estabilidade da moeda, deu uma qualidade de vida extraordinária ao povo brasileiro e permitiu toda essa consequência de desenvolvimento que Brasil teve nos últimos anos", disse Anastasia. "Temos o maior orgulho do presidente FHC. Ele foi responsável pela modernização do País. Se temos hoje agências reguladoras, telefonia para todo mundo, serviço de qualidade, devemos muito à herança dele", afirmou Perillo. "Se tiver que debater o passado, vamos debater, com a cabeça erguida e a consciência de dever cumprido."
Para os tucanos, o partido deve explorar o modo de governar como plataforma eleitoral - o PT usará o combate à miséria como mote. Em maio, o PSDB fará congresso nacional para discutir o programa e debater o discurso. Entre as áreas que necessitam melhora, dizem os governadores, está a comunicação. "Acho que foi o grande erro do partido nesses anos", disse Perillo. Potencial candidato, Aécio está à procura de um marqueteiro.