Título: Terceiro mais votado rejeita coalizão com esquerda e agrava crise na Itália
Autor: Netto, Andre
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2013, Internacional, p. A9

A primeira tentativa do ex-co­munista Pier Luigi Bersani de formar um governo de coali­zão, encerrando o impasse po­lítico na Itália, fracassou on­tem. Beppe Grillo, candidato do Movimento 5 Estrelas (M5S), que obteve a terceira maior votação nas eleições de domingo e de segunda-feira, informou que não aceitará alianças nem dará seu voto de confiança a Bersani no Parla­mento.

Se a resistência permanecer, Bersani, líder do Partido Demo­crático (PD), terá duas alternati­vas se quiser chefiar o país: for­mar uma aliança com o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusco­ni ou montar um governo de mi­noria no Parlamento.

O impasse criado pelas elei­ções se aprofundou ainda mais ontem. Na terça-feira, Bersani fez um gesto de aproximação em direção a Grillo, propondo uma agenda mínima para um gover­no de coalizão até as próximas eleições.

A confirmação foi feita por Mi­guel Gotor, conselheiro político de Bersani. "Nós queremos fa­zer Grillo sair de sua caverna, obrigá-lo a assumir suas respon­sabilidades. A hora chegou para ele dizer o que quer fazer por es­se país", afirmou Gotor. "Três blocos se formaram, um de es­querda, um de direita, cada um com 10 milhões de votos, e o M5S, com 8 milhões. Será neces­sário que dois deles se aliem para governar."

Insultos. Ainda segundo o con­selheiro, o PD está pronto para oferecer ao M5S um governo com base em propostas comuns, como a reforma política. "Nós proporemos a todas as forças po­líticas do Parlamento um progra­ma fundamentado em um gran­de número de reformas, que leva amplamente em consideração aquelas defendidas pelo M5S", explicou Gotor.

A resposta de Grilio veio on­tem mesmo. O líder do M5S e ex-comediante rejeitou qual­quer aproximação e ironizou o líder do PD, a quem chamou de "arrogante". "Bersani nos asse­dia politicamente. Há vários dias, ele importuna o M5S com propostas indecentes em lugar de se demitir, como qualquer um faria em seu lugar". Além da recusa em formar um governo, Grilio insultou o adversário. "Bersani é um morto que fala", disparou.

O líder do PD, que por ter a maioria na Câmara dos Deputa­dos terá prioridade para tentar formar um governo e tornar-se primeiro-ministro, respondeu horas depois, mantendo as por­tas abertas. "O que Grilio tem a me dizer, inclusive seus insul­tos, eu quero ouvir no Parlamen­to. E lá que cada um assumirá suas próprias responsabilida­des", disse.

Bersani insiste em uma alian­ça com o M5S porque seus corre­ligionários rejeitam uma coalizão com partido O Povo da Liber­dade (PDL), de Berlusconi, que chegou em segundo nas elei­ções.