Título: Alemanha eleva tom de críticas à Itália
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2013, Internacional, p. A10
Políticos da Alemanha multiplicaram ontem as advertências e as críticas ao impasse político na Itália, cujas eleições não apontaram o candidato de centro-esquerda Pier Luigi Bersani como claro vencedor. Ontem, o ministro alemão de Finanças, Wolgang Schauble, advertiu que o país pode estar trilhando o mesmo caminho de caos econômico que a Grécia. Já o líder da oposição social-democrata, Peer Steinbruck, lamentou que os italianos tenham votado em "dois palhaços".
As críticas da Alemanha são uma nova intervenção nos assuntos do país vizinho. Na semana passada, membros do governo da chanceler Angela Merkel haviam sugerido que o melhor candidato para governar a Itália seria o premiê demissionário Mario Monti, preferido da União Europeia, de Berlim e dos investidores internacionais, mas apoiado por menos de 10% da população.
Ontem, o tom dos alemães foi ainda mais incisivo. Schauble disse temer pelo risco de contágio da crise na Itália pelo restante da Europa. "A Itália, neste momento é um caso grave, contagioso, infeccioso para o futuro da Europa. Os políticos italianos deveriam trabalhar muito para formar um governo e dar garantias da continuidade da política pró-euro do governo precedente", opinou. "Nós vivemos essa situação ano passado com a Grécia, quando as eleições não resultaram em uma maioria."
Na mesma linha, o ministro das Relações Exteriores Guido Westerwelle pediu aos italianos que se entendam o mais rápido possível e formem um governo estável.
As declarações mais fortes, porém, vieram do líder da oposição alemã, Peer Steinbrück. Ele disse estar "consternado pela vitória de dois palhaços", referindo- se a Beppe Grillo e Silvio Berlusconi. "Para mim, dois populistas ganharam." As declarações quase levaram a um incidente diplomático. À noite, o presidente da Itália, Giorgio Napolitano, cancelou o encontro que teria com Steinbrück.
As declarações dos líderes políticos da Alemanha sobre a situação política da Itália demonstram a preocupação que se abateu sobre os dirigentes em toda a Europa. Isso porque a vitória apertada de Bersani e os votos em Berlusconi e sobretudo em Grillo foram interpretados como uma reprovação das urnas à política de austeridade e também à Alemanha e Merkel, defensores do rigor fiscal.
O presidente da Alemanha, Joachim Gauck, já advertia na sexta-feira para o risco de crescimento do populismo na Europa. "Não são apenas os partidos populistas que acusam a chanceler (Merkel) se ser representante de um Estado que quer fazer uma Europa alemã pela força e dominar outros povos", alertou.
Na terça-feira, o ministro do Interior alemão, Peter Friedrich, reconheceu em entrevista à rádio alemã SWR2 que a política de austeridade está sendo reprovada pelas urnas em diferentes países da União Europeia. "É um sinal evidente de que só com cortes fiscais não teremos apoio", afirmou.
Para Marianne Dony, cientista política do Instituto de Estudos Europeus da Universidade Livre de Bruxelas, o crescimento, dos movimentos antieuropeus na Itália é muito inquietante.