Título: Para atrair investidor, Dilma promete estabilidade jurídica e boa rentabilidade
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2013, Economia, p. B1

Diante da desconfiança de executivos de vários setores sobre as regras para concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, a presidente Dilma Rousseff prometeu ontem que o governo vai trabalhar para garantir que os investimentos necessários sejam feitos com "estabilidade jurídica clara, remunerados devidamente, com financiamentos de longo prazo". O sinal foi dado durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (GDES).

Durante discurso, Dilma frisou que está "consciente" de que o volume de investimentos necessários para tirar do papel o plano de logística lançado pelo governo é "vultoso", por isso acenou para a platéia de empresários com condições mais adequadas de remuneração dos projetos, respondendo a uma das principais críticas aos pacotes lançados no ano passado.

As mudanças, apresentadas anteontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, a investidores estrangeiros em Nova York, foram expostas ontem ao empresariado nacional pelo interino da pasta, Nelson Barbosa. "A taxa de retorno do acionista é bem elevada." Os ganhos com as rodovias poderão chegar a 15% ao ano, enquanto nas ferrovias o retorno é de até 12,5%. Ainda assim, as reações são de cautela.

Erros. O programa de concessões não deslanchoii no ano passado porque estava errado, comentou o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão. "O governo desenhou um modelo que priorizou pouco a lucratividade dos projetos e, agora que percebeu que as concorrências ficaram vazias, adequou o modelo." A mesma avaliação foi feita pelo presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy. Ele considera que o governo tomou a decisão correta ao melhorar a rentabilidade dos investimentos, o que amplia as chances de sucesso.

Mas ainda restam desafios. Godoy observou que o País não dispõe de recursos de longo prazo para esse volume de projetos. São R$ 242 bilhões só em logística. E preciso buscá-los no exterior, daí a iniciativa do governo de promover um roadshow internacional para "vender" os projetos. Faltam, ainda, mecanismos de seguro que reduzam perdas em caso de fracasso.

"Precisamos ter condições para que o investidor fique interessado", concordou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade. "Ninguém investe se há riscos, principalmente regulatórios."

Resposta. "A melhor resposta será quando fizermos o primeiro leilão", disse Nelson Barbosa. Ele afirmou que as portas do Ministério da Fazenda estão abertas para discussão e acrescentou que o governo trabalha no fortalecimento dos mecanismos de garantia, que serão necessários, sobretudo, nos primeiros 60 meses dos contratos.

O governo trabalha ainda em mecanismos"que convençam os bancos privados a financiar projetos de infraestrutura. Para o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, o movimento é positivo no sentido de criar um modelo de crédito de longo prazo. Segundo ele, os investimentos em infraestrutura precisam compatibilizar prazo, taxa e viabilidade do projeto. / Renata Veríssimo, EDUARDO RODRIGUES, RAFAEL MORAES MOURA E LU AIKO OTTA