Título: Nome de d. Odilo cresce em meio a aposta de que papa será não europeu
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2013, Vida, p. A11

Cada vez mais incensado pela imprensa internacional nos últimos dias, o cardeal brasileiro d. Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, entrou ontem no centro das especulações sobre os favoritos para suceder Bento XVI. O nome de d. Odilo, antes pouco cogitado, agora faz parte da maioria das listas de papáveis dos jornais europeus e até o secretário dos cardeais brasileiros, monsenhor AntonioCatelan Ferreira, reconhece que seu nome "cresce muito, e em mais de um continente". Entretanto, entre os cardeais que votarão no conclave, ele é evocado apenas como "uma das possibilidades". A única tendência concreta, por ora, é a de que o próximo pontífice seja de fora da Europa.

A rápida ascensão de d. Odilo entre os papáveis ocorre às vésperas do conclave que vai eleger o novo papa. Ontem, os cardeais que já chegaram a Roma fizeram as primeiras reuniões preparatórias no Colégio Cardinalício (mais informações nesta página).

As especulações em torno do brasileiro explodiram na semana passada, quando o jornal La Stampa publicou uma reportagem sobre uma suposta manobra de cardeais da Itália e das Américas para impedir que um nome próximo ao atual secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, vença a eleição. Um desses "protegidos" seria o italiano Angelo Scola, arcebispo de Milão - nome sugerido por Bento XVI. De acordo com o jornal alemão Frankfurt Allgemeine Zeitung, dois pesos-pesados da Igreja estariam implicados na manobra para fazer um papa de fora da Europa: os cardeais italianos Angelo Sodano e Giovanni Battista Re. Para barrar Scola, eles seriam "os patrocinadores de Scherer".

Essas especulações catapultaram o cardeal brasileiro ao primeiro plano. Ontem, o jornal La Repubblica publicou um quadro com seis nomes de supostos favoritos - dos quais apenas dois europeus: Peter Erdo, arcebispo de Budapeste, na Hungria, e Angelo Scola. Os demais indicados foram d. Odilo, o canadense Marc Ouellet, prefeito da Congregação dos Bispos do Vaticano, o americano Timothy Dolan, arcebispo de Nova York, e o congolês Laurent Pasinya, arcebispo de Kinshasa. Sobre d. Odilo, o diário afirma: "Muitos, mesmo entre os cardeais italianos, estão dispostos a votar nele já nas primeiras votações".

A badalação do arcebispo de São Paulo foi confirmada pelo monsenhor Antonio Catelan Ferreira, secretário de d. Raymundo Damasceno que também está prestando assessoria a d. Odilo em Roma. "É um nome que cresce e em mais de um continente, na Europa inclusive." Segundo o monsenhor, "ele estava desde o começo entre os favoritos, a imprensa é que não falava", acrescentou, afirmando que, agora, "o telefone não para" por pedidos de entrevistas.

Entre os cardeais que participam do conclave, no entanto, o discurso é diferente. O Estado questionou vários deles na manhã de ontem, antes da reunião do Colégio Cardinalício. Falando abertamente sobre as especulações, muitos religiosos admitem que há uma tendência de escolha de um pontífice de fora da Europa. Mas são mais contidos quando questionados sobre as chances de d. Odilo, que veem como "um nome possível".

"Há muitos cardeais que poderiam ser papa", disse André Vingt-Trois, arcebispo de Paris. Questionado se é d. Odilo é competente o suficiente para chefiar Igreja Católica, ele afirmou: "Não sei. Vamos ver". Arcebispo emérito de Sevilha, o franciscano Carlos Amigo Vallejo deu um banho de realidade nos rumores. "É normal o interesse, mas a verdade é que não há favoritos."

O que pode contar pontos contra o arcebispo de São Paulo é um velho ditado do Vaticano: "Quem chega papa ao conclave, em geral sai cardeal."