Título: Armadilha do câmbio preocupa investidor
Autor: Fernandes, Adriana ; Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2013, Economia, p. B3

O governo está preocupado com a necessidade de novos mecanismos privados de mercado que sirvam para proteger das variações futuras da taxa de câmbio os investidores estrangeiros que participarem do programa de concessões em infraestrutura. Os instrumentos de proteção (hedge) de longo prazo são mais caros, o que tem sido apontado como um problema a ser resolvido para deslanchar os investimentos estrangeiros nas concessões de infraestrutura.

Investidores estrangeiros apresentaram essa questão ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante o roadshow realizado na semana passada em Nova York. Na ocasião, foram "vendidas" oportunidades de negócios de R$ 470,1 bilhões.

O risco de uma desvalorização mais forte do câmbio pode afetar a rentabilidade esperada dos negócios e afastar os investidores. Porém, o ingresso de recursos estrangeiros é considerado fundamental para viabilizar o programa.

A avaliação é que a principal fonte de empréstimos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), não terá recursos suficientes. Daí os esforços para atrair os estrangeiros e os bancos privados, além de Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Novos mecanismos de proteção cambial dariam reforço a essa estratégia.

O governo quer que os estrangeiros não só se candidatem a concessionários, como também entrem como financiadores dos projetos.

O BNDES se propõe a dar suporte de até 80% do valor dos investimentos. O restante terá de vir de outras fontes, como financiamentos bancários, debêntures de infraestrutura e aportes do consórcio, entre outras.

Na equipe econômica, a avaliação é que a preocupação quanto à proteção para os investimentos estrangeiros é real, pois o investidor ingressará com recursos estrangeiros e receberá em reais. Há, portanto, um descasa- mento de moedas a ser equacionado. Porém, os mecanismos de mercado existentes para esses casos são demasiado caros para programas de longo prazo como o proposto pelo governo.

Isso, porém, não é um problema tão grande que vá afastar os investidores, acreditam os técnicos, pois há formas de contornar essa questão. A avaliação é de que o mercado brasileiro tem mecanismos privados de proteção para mitigar o problema, que podem ser usados e aperfeiçoados. O governo não pretende bancar o risco cambial.

Técnicos confiam que, superando as dúvidas apresentadas pelos investidores, os recursos virão. A aposta é que o excesso de liquidez nas economias centrais e as poucas opções de investimentos rentáveis transformem o programa brasileiro numa boa oportunidade.

Calendário. O governo trabalha também para atender outras preocupações apresentadas pelos investidores, como o calendário muito concentrado de leilões. A área técnica deve fazer uma adequação e "fatiar" os leilões, como já adiantou o presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo.

Os cronogramas estão atrasados, mas a intenção é leiloar os 7,5 mil km de rodovias e 10 mil km de ferrovias este ano. São muitos projetos a serem analisados quase que simultaneamente, por isso o mercado tem pedido espaçamento maior entre as ofertas públicas.

O programa de concessões em infraestrutura foi apresentado a investidores em Nova York e Londres na semana passada. Haverá uma etapa asiática, com reuniões em Tóquio e Pequim, cuja data não está definida. Mantega deverá participar.

Oportunidades

R$ 470,1 bi

é o valor das oportunidades de negócios em concessões do setor de infraestrutura apresentado pelo ministro Guido Mantega durante encontro com investidores estrangeiros em Nova York