Título: Barbosa manda repórter chafurdar no lixo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2013, Nacional, p. A7

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, chamou ontem um repórter do Estado de "palhaço" e o mandou "chafurdar no lixo". O ministro irritou-se ao ser abordado na saída da sessão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e agrediu verbalmente o jornalista antes mesmo que a pergunta fosse concluída.

Um grupo de repórteres esperava o final da sessão para ouvi-lo sobre críticas que recebeu das associações de classe da magistratura. Em nota divulgada no final de semana, as entidades rebateram as declarações do ministro à imprensa internacional segundo as quais os juizes têm mentalidade "mais conservadora, pró status quo, pró impunidade."

Felipe Recondo, repórter do Estado, tentou fazer uma pergunta: "Presidente, como o senhor está vendo...". Foi o máximo que conseguiu dizer antes que Barbosa o interrompesse. "Não estou vendo nada", disse o presidente do Supremo. O repórter tentou fazer outra pergunta, mas novamente foi impedido. "Me deixa em paz, rapaz. Vá chafurdar no lixo como você faz sempre", afirmou o ministro, que ganhou projeção nacional ao relatar o julgamento do mensalão.

O jornalista tentou questionar a razão de tal comportamento: "Que é isso, ministro, o que houve?". Ainda exaltado, Barbosa prosseguiu: "Estou pedindo, me deixe em paz. Já disse várias vezes ao senhor". O repórter respondeu dizendo que fazer perguntas era seu trabalho. "Eu não tenho nada a lhe dizer, não quero nem saber do que o senhor está tratando", afirmou o presidente do Supremo. Seu assessor de imprensa, Wellington Geraldo Silva, intercedeu e entrou na frente do ministro. Quando já estava na porta do elevador, ainda na frente dos jornalistas, Barbosa chamou o repórter de "palhaço".

Mais tarde, o assessor divulgou notá com pedido de desculpas em nome do presidente do Supremo. No texto, alegou que Barbosa estava cansado e com dores nas costas - ele tem problemas crônicos na coluna - quando "respondeu de forma ríspida" ao repórter do Estado.

Ao longo do julgamento do mensalão, Barbosa atendia a imprensa de forma constante, mas criticava as perguntas dos repórteres. Em uma ocasião, questionado sobre o comportamento sereno que teve no comando de sua primeira sessão como presidente, Barbosa retrucou. "Logo você, meu brother! ", afirmou o ministro, dirigindo-se a um repórter de TV que, como ele, é negro.

Em nota, o presidente da Associação dos Juizes Federais (Ajufe), Nino Toldo, afirmou que "a atitude de Barbosa é incompatível com a prudência, o equilíbrio e a serenidade que se espera de um magistrado, sobretudo do presidente do Supremo, que está à frente de um poder da República". "A democracia pressupõe diálogo e respeito a opiniões contrárias e, por isso, a liberdade de imprensa é fundamental."

Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI),Maurício Azêdo afirmou que a entidade recebe "com indignação" o comportamento de Barbosa. "Ele agiu de forma incompatível com a conduta que se espera de qualquer magistrado, e mais ainda do presidente do STF."

Carlos Lauria, coordenador para a America Latina do Comitê para a Proteção de Jornalistas, que terá uma reunião hoje em Brasília com Barbosa, preferiu não entrar em polêmica. "Não conheço todo o contexto do episódio. Mas me parece claro, sempre, que o diálogo entre as instituições e a imprensa deve ser marcado pelo respeito", afirmou. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) não quis se manifestar oficialmente sobre o episódio.

INTEGRA DA NOTA

• Em nome do presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Joaquim Barbosa, peço desculpas aos profissionais de imprensa pelo episódio ocorrido hoje, quando após uma longa sessão do Conselho Nacional de Justiça, o presidente, tomado pelo cansaço e por fortes dores, respondeu de forma ríspida à abordagem feita por um repórter. Trata-se de episódio isolado que não condiz com o histórico de relacionamento do Ministro com a imprensa.

0 ministro Joaquim reafirma sua crença no importante papel desempenhado pela imprensa em uma democracia. Seu apego à liberdade de opinião está expresso em seu permanente diálogo com profissionais dos mais diversos veículos. Seu respeito pelos profissionais de imprensa traduz-se em iniciativas como o diálogo que iniciará no próximo dia 07 de março, quando receberá em audiência o Sr. Carlos Lauria, representante do Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), ONG com sede em Nova Iorque.

Wellington Geraldo Silva, secretário de Comunicação do STF."