Título: Personal trainer de deputado era laranja de licitação, diz delator
Autor: Lopes, Eugênia ; Bresciam, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2013, Nacional, p. A5

Analista que acusa Chalita de corrupção afirma que secretário contratou sócio de empresa que tinha contrato com pasta.

Em novo depoimento ao Ministério Público, o analista de sistemas Roberto Grobman afirmou que o deputado Gabriel Chalita (PMDB) determinou a contratação de seu personal trainer para um cargo de confiança no governo paulista quando o parlamentar foi secretário de Educação do Estado, entre 2002 e 2006.

O educador físico Alexandre Eduardo de Freitas foi contratado em abril de 2004 como assessor da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), com um salário de R$ 10 mil, e foi sócio da Editoras Associadas do Brasil, até janeiro de 2005. Segundo o denunciante, a empresa era usada como laranja pelo grupo GOC para manipular licitações da gestão Geraldo Alckmin (PSDB).

Grobman disse à Promotoria que Alexandre trabalhava na academia Bio Ritmo antes de ser contratado pelo governo paulista. Segundo o denunciante, ele "não comparecia regularmente à Secretaria de Estado da Educação" depois que foi contratado.

"Como Alexandre recebia da Secretaria de Educação e da FDE, Chalita não pagava os honorários pelos serviços prestados como personal trainer", disse.

Grobman alega que a Editoras Associadas do Brasil participava dos processos de contratação do governo paulista e apresentava preços altos para induzir a FDE a comprar produtos de outras empresas ligadas ao grupo COC.

"Tal editora apresentava propostas de valor maior, para que outra empresa do Grupo COC ganhasse o certame, como a Interactive Sistemas Educacionais Ltda. Assim, a Editoras Associadas participava apenas para (...) simular uma suposta "concorrência" entre os proponentes", declarou.

Entre os anos de 2004 e 2006, a Interactive firmou três contratos para fornecer softwares educacionais para a FDE, no valor total de R$ 3,75 milhões. A Editora COC foi contratada em 2004 para vender 7 mil "cadernos digitais" por R$ 1 milhão.

A Editoras Associadas, onde o personal trainer havia trabalhado, também foi contratada pela FDE. Seis meses depois que Alexandre deixou o governo, em janeiro de 2006, a fundação assinou um contrato de R$ 2,45 milhões com empresa para a aquisição de softwares educacionais.

Alexandre trabalhou na FDE entre 2 de abril de 2004 e 8 de junho de 2005, com a responsabilidade de desenvolver um programa de qualidade de vida para funcionários da Secretaria de Educação. À época da rescisão de seu contrato, seu salário era de R$ 10.629,64.

O grupo Bio Ritmo confirmou que Alexandre foi diretor técnico da rede até outubro de 2003.

A assessoria de Chalita informou que Alexandre não era personal trainer do deputado, negou a suspeita de favorecimento e disse acreditar na apuração correta do Ministério Público.

Alexandre de Freitas não foi encontrado para comentar as declarações de Grobman.

Criminal. Em Brasília, ontem, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que começou a analisar as denúncias de que Chalita teria recebido propina de empresários interessados em firmar contratos com a Secretaria de Educação. Há 11 inquéritos civis em curso no Ministério Público de São Paulo, mas os inquéritos criminais só podem ser abertos com autorização de Gurgel, pois Chalita é parlamentar. Ele sinalizou que nem todo o material deverá ser aproveitado. "A princípio, penso que possa haver algo a ser eliminado", afirmou.