Título: Reajuste no diesel alivia balanço da Petrobrás e ações sobem de 9% a 15%
Autor: Valle, Sabrina
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2013, Economia, p. B1
O reajuste de 5% para o diesel anunciado pela Petrobrás na noite de terça-feira pegou o mercado de surpresa e fez ontem as ações ordinárias da companhia dispararem 15,1% e as preferenciais, 9%.
Apesar do aumento de receita, a empresa manterá altos níveis de endividamento e prejuízo ao importar diesel mais caro. Mas a redução da diferença nos preços e o reforço de caixa, que pode chegar a US$ 2 bilhões anualizados, foram celebrados.
"Não resolve os problemas no balanço da Petrobrás, mas certamente ajuda", disseram os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes, do Itaú Securities. "Mesmo um pequeno alívio é bem-vindo a essa altura." Foi o quarto aumento do combustível conquistado pela presidente Graça Foster em um ano no cargo. Foram 3,94% em junho de 2012, 6% em julho e 5,4% no fim de janeiro. A gasolina subiu 7,83% em junho e 6,6% em janeiro.
Com a inflação acima do centro da meta estabelecida pelo governo, o mercado estava desacreditado de novo reajuste no curto prazo e as ações bateram nos últimos dias a pior cotação em sete anos. "Nunca diga nunca", comemoraram os analistas do Credit Suisse, em relatório.
O diesel tem pouco peso (0,13%) na inflação medida pelo IPCA, mas forte impacto no caixa da Petrobrás. O reforço de receita com a venda de diesel será fundamental para sustentar o novo plano de negócios da companhia para 2013-2017, que será antecipado em cerca de três meses por Graça Foster. O plano pode ir à votação pelo conselho de administração já na próxima reunião do dia 15.
Os investimentos da Petrobrás para este ano já foram elevados em 16%, de R$ 84,1 bilhões para R$ 97,7 bilhões. A recalibragem do diesel também aliviará o preocupante nível de endividamento da empresa. Sem reajustes, a Petrobrás estimava chegar ao quarto trimestre em um grau de endividamento de mais de 3,5 vezes a dívida líquida/Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização). O fato poderia provocar a perda do grau de investimento das agências de classificação de risco.
Mas a defasagem em relação ao mercado internacional continua alta. Os preços no mercado externo continuam 10% mais caros que no interno, segundo Santander e Itaú. Diferença relevante para uma empresa que importou uma média de 190 mil barris por dia em 2012. A previsão para este ano é de aumento de consumo, diante da necessidade de transportar por caminhão a safra recorde agrícola prevista. P
erda. O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, projeta em R$ 6,5 bilhões as importações de diesel e gasolina neste ano. "No ano passado, a Petrobrás teve prejuízo de R$ 5,2 bilhões com importação de gasolina e diesel. A maior parte dessa perda, pouco mais de R$ 3 bilhões, ficou por conta da compra de diesel."
A Petrobrás empurrou o Ibovespa para uma alta de 3,56%. As ações ordinárias da companhia (ON, com direito a voto) subiram mais do que as preferenciais (PN). O mercado interpretou que a companhia pode corrigir a diferença no pagamento de dividendos para as duas classes de acionistas.
Analistas de instituições como o Deutsche Bank e JP Morgan dizem que o anúncio da Petrobrás é um sinal positivo da percepção do governo federal em relação às necessidades da estatal de reajustar os combustíveis no mercado interno. "As forças por trás do novo aumento de preços são desconhecidas (a despeito de sua necessidade inquestionável). Poderia a política estar jogando a favor da Petrobrás agora? Esperamos que sim", destacou o analista Marcus Sequeira, do Deutsche. / colaborou ANDRE MAGNABOSCO