Título: Estímulos para economia podem ser antecipados
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2013, Economia, p. B7

Técnicos do governo se mostram impacientes com a falta de reação ao pibinho e medidas que sairiam no segundo semestre podem sair antes

BRASÍLIA

O governo federal está angus­tiado com a falta de reação do setor produtivo brasileiro diante das doses maciças de es­tímulo já anunciadas. Impa­cientes, alguns técnicos da equipe econômica cogitam an­tecipar alguns estímulos que inicialmente estavam previs­tos para o segundo semestre do ano, como a ampliação dos setores beneficiados pela de­soneração da folha de paga­mentos.

O Palácio do Planalto já bateu o martelo quanto ao anúncio da isenção de tributos federais so­bre a cesta básica, que será feito no feriado do 1.° de maio, quan­do a presidente Dilma Rousseff participará de eventos das cen­trais sindicais. O governo tam­bém deve anunciar ainda neste mês a redução do PlS/Cofins so­bre o setor de etanol.

Aequipe econômica ainda ana­lisa se reduz esses mesmos tribu­tos sobre os produtores de di sel. Ontem, o ministro da Fazen­da, Guido Mantega, negou que pretenda reduzir o PIS/Cofins para atenuar o impacto ao consu­midor do reajuste de 5% do pre­ço do diesel, anunciado anteon­tem pela Petrobrás.

Pressionado pelo crescimen­to de apenas de 0,9% registrado em 2012, uma marca ruim, o mi­nistro da Fazenda cobrou dos empresários ontem a volta dos investimentos e perguntou o que mais o governo poderia fa­zer para despertar o "espírito ani­mal" das companhias.

Otimismo. A avaliação quase unânime dos porta-vozes do se­tor produtivo é que os estímulos surtirão efeito e 2013 será me­lhor do que o ano passado. Po­rém, é preciso concretizar a sé­rie de medidas já anunciadas, co­mo o programa de concessões em infraestrutura e o fim da guer­ra fiscal. Além disso, a agenda de competitividade da presidente Dilma precisa prosseguir e ata­car, por exemplo, o excesso de burocracia e a regulamentação do trabalho terceirizado.

A indústria, que no ano passa­do amargou uma retração de 2,7%, poderá crescer até 3,5% es­te ano se as medidas em benefí­cio da competitividade forem im­plementadas. A previsão é do presidente da Confederação Na­cional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade.

"Todos estavam com otimis­mo unânime, projetando cresci­mentos de 3%, 3,5%", relatou a presidente da Confederação Na­cional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Seu setor, es­pecificamente, deverá ter expan­são de 4% a 4,5%.

"Os investimentos virão", as­segurou o presidente da Federa­ção das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que projeta crescimento de 2,5% para seu setor este ano. A convic­ção é baseada no fato de, este ano, as empresas já começarem com uma taxa de juros mais bai­xa, um dólar mais apreciado ante o real e custos menores em salá­rio e eletricidade.

Ele citou como exemplo o se­tor de bebidas, que tem um pla­no de investimentos da ordem de R$ 20 bilhões em três anos. Em seguida, lembrou que a Recei­ta Federal pretende elevar a tri­butação sobre o setor em abril. "Aumentar imposto não pode, em hipótese alguma", frisou.

Os movimentos erráticos do governo, que eleva a tributação ao mesmo tempo em que promo­ve desonerações, são apontados nos bastidores como causa da desconfiança do setor produti­vo. A lista de pedidos apresenta­da ontem por Andrade, da CNI, é extensa. Ele pediu mais investi­mentos em infraestrutura e rapi­dez na reforma do PIS e, da Cofins. Quer, também, a inclusão dos setores de transportes e saú­de no regime de desoneração da folha e a regulamentação do tra­balho terceirizado. /João VILLAVERDE, LU AIKO OTTA, RENATA VERÍSSIMO e CÉLIA FROUFE