Título: Mais do que palavrinhas na reunião do Copom
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2013, Economia, p. B2

A taxa básica de juros de 7,25% ao ano está em vigor desde outubro do ano passado e foi mantida na reunião de terça e quarta-feira desta semana do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Mudou só o teor do comunicado emitido após o encontro: saíram do texto as palavrinhas mágicas - a taxa será mantida "por um período de tempo suficientemente prolongado" - presentes em textos anteriores. Em seu lugar, um comunicado curto, informando que a meta para a taxa Selic não foi alterada e que o comitê "irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".

Bastou esse texto com 47 palavras, inclusive vogais, para que empresas e famílias.ficassem sabendo que o juro de 7,25% poderá ser aumentado nas próximas reuniões do Copom - e haverá mais seis sessões neste ano, a primeira em 16 e 17 de abril e a última, em 26 e 27 de novembro.

Mas o eventual aumento do juro básico talvez não dependa só de fatores econômicos, dependendo também da anuência da Presidência. Não é o que se deveria esperar, mas é o ocorrido na era Dilma.

A alta da taxa básica - repita-se, se ocorrer - decorrerá da dificuldade de manter a inflação sob controle. Mas, em especial, decorrerá da necessidade de o BC recuperar credibilidade. Ou seja, de mostrar que continua podendo elevar o juro, quando julgar necessário. Não seria uma decisão tão complicada, pois, se o juro básico for elevado em apenas um ponto porcentual - correção módica quando se lembra que a taxa básica foi reduzida de 5,25 pontos porcentuais entre agosto de 2011 e outubro de 2012 a Selic chegaria a 8,25% ao ano e ainda seria uma das menores da história. O problema é o mau hábito da Fazenda de falar do que não deveria - juros básicos e câmbio -, enfraquecendo o papel institucional do BC.

A última pesquisa Focus, do BC, de sexta-feira passada, indicou a expectativa de que a taxa básica mediana de 2014 será de 8,25%. Os juros negociados no mercado futuro vêm. apontando, há mais tempo, para a alta. E esta poderá ser inevitável, se a inflação romper o teto superior da meta, de 6,5% ao ano, ou se a economia - em especial a indústria - voltar a crescer com vigor, como mostraram os indicadores de janeiro do IBGE.

Mas, em termos políticos, a alta do juro poderá ser necessária só para indicar que as autoridades monetárias não perderam totalmente a autonomia. Até o governo já saberia que errou ao falar sobre o que não deve.