Título: Parceria com BTG dá fôlego a Eike na Bolsa
Autor: Durão, Mariana ; Ciarelli, Mônica
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2013, Negócios, p. B17

Ações da OGX, principal empresa do Grupo EBX, subiram 16,44%, mas ainda valem cerca de um quinto do valor registrado há um ano

A parceria entre Eike Batista e o banco BTG, de André Esteves, deu fôlego extra às ações do grupo EBX ontem na Bolsa de Valores de São Paulo. Os papéis da petroleira OGX, principal empresa do grupo, chegaram a subir 26%, e fecharam em alta de 16,44%. No entanto, o preço da ação ON - cotada em R$ 3,41 - ainda representa menos de um quinto do pico alcançado em fevereiro do ano passado, quando o papel valia R$ 18,21.

Isso porque, apesar de positivo, o acordo celebrado ontem - que prevê uma espécie de assessoria do BTG ao Grupo EBX - não esgota os desafios da empresa para recuperar a credibilidade perdida nos últimos tempos.

Desde junho, quando a petroleira anunciou metas de produção muito abaixo das previstas para o campo de Tubarão Azul, na Bacia de Campos, a empresa âncora de Eike Batista enfrenta a desconfiança do mercado e arrasta as demais companhias do grupo. "Acho que o papel (da OGX) é afetado por duas coisas: pelo desempenho operacional da empresa em si e por como o mercado vê o grupo como um todo. Existe um medo sistêmico do Grupo EBX muitas vezes movendo o mercado", diz Oswaldo Telles, analista do Banco Espírito Santo (BES).

A disparada no preço do papel pode ser explicada em boa parte pela retração dos últimos meses. Qualquer movimento capaz de capitalizar a OGX é bem-recebido. O sucesso dessas operações reduziria a necessidade de caixa da petroleira, pressionada por dificuldades para deslanchar o ritmo da produção de óleo, iniciada em janeiro de 2012.

"Com o acordo EBX/BTG, há uma grande redução do risco financeiro nos projetos de Eike", diz Luiz Otávio Broad, analista da Ágora Corretora. "Mas ainda não sabemos muitos detalhes dessa parceria", acrescenta.

Ainda céticos diante das expectativas frustradas - tanto em relação às reservas de petróleo quanto à curva de produção da OGX - investidores aguardam por resultados e temem problemas de liquidez. O comportamento das ações será ditado por eventos como o anúncio dos resultados de 2012, declaração de comercialidade de blocos, participação da OGX na 11.ª rodada do setor e a revisão da certificação de seus recursos.

Nas condições atuais, o BES estima que Eike Batista terá de exercer por inteiro a opção de subscrição de ações em favor da empresa de US$ 1 bilhão, assinada em outubro. Além disso, terá de ir a mercado captar mais US$ 1 bilhão para manter um mínimo de caixa disponível.

A análise é baseada no atraso de seis meses previsto para a conexão do quarto poço da OGX no Campo de Tubarão Azul à plataforma OSX-1, assim como o adiamento da produção de duas outras plataformas. O BES revisou sua estimativa para de produção diária da OGX entre 2013 e 2018. A previsão para 2018 desabou: de 441 mil para 220 mil barris de óleo equivalente por dia.

Sócio. Para o consultor Adriano Pires, a saída para a OGX é a busca de um sócio que divida os riscos. "Sem um parceiro de credibilidade, fica difícil a situação da empresa", afirmou. Outros acreditam que a injeção de capital de um novo sócio traria alívio, mas estaria longe de ser a solução dos problemas.

No setor, a leitura é que a companhia encontra barreiras na busca por um sócio por não ter caixa reforçado ou oferecer tecnologia de ponta, como a Petrobrás. Outro ponto levantado é a supervalorização dos ativos negociados por Eike. Um exemplo é a venda de 30% a 70% do Campo de Tubarão Martelo, na Bacia de Campos. A OGX espera levantar US$ 1,5 bilhão com a operação, enquanto o BES avalia a área toda em US$ 940 milhões.

Mesmo que a OGX seja o principal foco da parceria da EBX com o BTG, a reconquista da credibilidade dependerá do avanço da produção. A prova de fogo virá no terceiro trimestre, quando deve ser divulgada a revisão da certificação dos recursos das bacias de Campos, Santos e Parnaíba, feita pela consultoria DeGolier&McNaughton. O resultado, se positivo, pode significar uma virada para a petroleira.