Título: Brasil cita impunidade em reunião da SIP
Autor: Manzano, Gabriel
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2013, Nacional, p. A8

País destaca assassinatos e agressões contra jornalistas; reunião de Meio de Ano da Sociedade Interamericana de Imprensa ocorre no México

A impunidade dos que atacam a liberdade de informar é a perso­nagem central do relatório so­bre a liberdade de imprensa no Brasil que foi lido ontem pelo re­presentante Paulo de Tarso No­gueira diante dos delegados de mais de 25 países na Reunião de Meio de Ano da Sociedade Interamericana de Imprensa, que se realiza em Puebla, no México.

"É motivo de grande preocupa­ção a impunidade no caso de as­sassinatos, cujo número cresceu nos últimos anos", diz o texto brasileiro. Em suas 11 páginas, ele de­nuncia também "a recorrência de decisões judiciais proibindo previamente a divulgação de in­formações" e lembra que a censu­ra judicial "historicamente au­menta nos meses de campanha eleitoral, como ocorreu no perío­do coberto por este relatório". No curto período tratado pelo do­cumento, entre 1.° de outubro e 19 de fevereiro, são relatados 22 casos - uma morte, 10 agressões, 5 casos de censura e 6 ameaças.

Presididas pelo uruguaio Cláudio Paolillo, do semanário Busqueda, as discussões da Co­missão de Liberdade de Impren­sa da SIP começaram na sexta- feira, e um documento final de­ve ser debatido e aprovado nes­ta segunda. São bastante aguar­dados os relatório do Equador e da Argentina, onde o cerco dos governos aos jornais de oposi­ção tem sido mais forte.

Embora mencione assassina­tos, o texto não os detalha, uma vez que se trata de episódios co­metidos em períodos anterio­res, já relatados em outros en­contros da SIP. No texto lido on­tem por Nogueira, que foi prepa­rado pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ), a morte men­cionada é a do jornalista Rodrigo Neto, do jornal Vale do Aço, de Ipatinga (MG), na última sexta- feira. Um parágrafo a respeito es­tava sendo incluído nos últimos momentos antes da reunião.

Barbosa. Entre as agressões es­tá o episódio protagonizado pelo presidente, do Supremo Tribu­nal Federal, Joaquim Barbosa, contra o repórter Felipe Recondo, do Estado. Os outros casos incluem as intimidações sofri­das por uma jovem não jomalista, em Santa Catarina. Trata-se da estudante Isadora Faber, que criou no Facebook um "Diário de Classe" em que denunciava er­ros na vida de sua escola, em Flo­rianópolis. Isadora sofreu amea­ças, sua avó foi atacada na rua, a família toda foi intimidada, apa­rente mente por familiares de ou­tros alunos ou de professores da Escola Básica Maria Tomázia Coelho, onde ela estuda.

Outro episódio de destaque no capítulo das ameaças foi o avi­so anônimo recebido em 18 de dezembro de 2011 pelo jornalis­ta Mauri König, da Gazeta do Po­vo, de Curitiba. "Informavam que sua casa seria metralhada por policiais militares", depois das seguidas denúncias que ele fez sobre abusos praticados pela polícia paranaense.

Sua família e o jornal também receberam ameaças. Semanas depois, König e a família foram enviados para o exterior, já que as autoridades não conseguiram garantir sua segurança.

Censura. No trecho que aborda a censura judicial, são menciona­dos casos de Boa Vista (RR), de Campo Mourão (PR), de Aracaju (SE), de Cachoeira do Sul (RS) e do Blog de Ricardo Noblat, de Bra­sília. Neste caso, Noblat foi obri­gado a retirar do ar fotos da então candidata à prefeitura de Manaus, Vanessa Grazziotin, que foi criticada por exagerar em um disrcurso feito no Senado no qual dizia estar sendo vítima de abusos cometidos durante a campanha.