Título: Cachoeira tenta retomar negócios 1 ano após prisão
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2013, Nacional, p. A9

Depois de ficar preso por 266 dias no ano passado sob acusa­ção de comandar uma rede de tráfico de influência envolvi­da com negócios públicos e jo­gos ilegais, Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, está aos poucos restabelecendo velhas cone­xões políticas e empresariais.

Argumentando que as provas da Operação Monte Cario serão anuladas, Cachoeira faz reu­niões em casa com amigos e em­presários, especialmente do se­tor de coleta de lixo. Entre os con­vidados, está Cláudio Abreu, ex- diretor da Delta Construções no Centro-Oeste, vizinho do contraventor e também réu na Justiça.

O que Cachoeira ainda não conseguiu foi marcar sua volta à socie­dade de Goiânia. Sua mulher, Andressa Mendonça, é requisitada em festas e eventos sociais. "Ele nunca foi das "altas rodas" da capi­tal. É de Anápolis e, por mais que tenha dinheiro, não é de família tradicional", diz um parlamen­tar que atuou na CPI do Cachoei­ra na Assembleia de Goiás.

A comissão terminou em piz­za na última semana, sem indiciamentos ou relatório final. Segun­do deputados da oposição, os aliados do governador Marconi Perillo (PSDB) literalmente se esqueceram de votar o texto.

A exposição pública de Ca­choeira - condenado a quase 40 anos de cadeia - tem sido evitada, especialmente após o flagra em um resort de luxo na Bahia, com diárias de R$ 3 mil. Há mais ou menos duas semanas, a defesa or­denou que o contraventor sub­mergisse para não atrapalhar a montagem de um figurino mais discreto para quem ainda respon­de a ações na Justiça. A personali­dade expansiva e articulada do contraventor sempre preocupou os advogados que o defendem.

Sob os cuidados do criminalista Nabor Bulhões, Cachoeira tor­nou-se evangélico na prisão e esta­beleceu uma rotina de cultos se­manais em casa. Na nova fase, ele pega os filhos na escola, deixou de frequentar a noite goiana e agora encomenda jantares em casa nos melhores restaurantes da cidade.

"É uma orientação pessoal de­le e que casa com a nossa. Ele está muito discreto e focado na famí­lia e nos processos. Carlinhos es­tá trabalhando na defesa. Isso tu­do absorve bastante tempo", afir­ma Nabor, negando que ele tenha retomado a vida empresarial.

Delação. Sobre uma eventual colaboração com a Justiça, Na­bor responde: "Não aceito assis­tir cliente que cogite a delação. É uma questão de princípio". Ao deixar a cadeia, Cachoeira prome­teu revelar tudo o que sabia e anunciou ser o "verdadeiro gar­ganta profunda do PT". Até ago­ra, nada veio a público.

Mesmo condenado, Cachoei­ra aguarda em liberdade o trânsi­to em julgado da sentença. O Mi­nistério Público avalia a possibi­lidade de novas denúncias por la­vagem de dinheiro, evasão de di­visas e corrupção. Uma força-ta­refa foi montada para analisar o fluxo financeiro da organização criminosa, e os volumosos sa­ques em espécie já despertaram a atenção dos investigadores.

Para a procuradora Léa Olivei­ra, uma das autoras da denúncia contra Cachoeira, o resultado da operação é positivo.