Título: Após polêmica, obra é entregue sem alarde
Autor: Arruda, Roldão ; Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2013, Nacional, p. A10

Tapume que envolvia monumento em memória de vítimas da USP trazia a inscrição ‘Revolução de 64’

Na sexta-feira, quan­do forem à Cidade Universitária para a cerimônia em home­nagem a Alexandre Vannuchi Leme, seus familiares e as au­toridades convidadas poderão conhecer o Monumento em Homenagem à Vítimas da Repressão Política Promovi­da pela Ditadura Militar (1964-1985).

Na Praça do Relógio, coração simbólico da USP, o monumen­to está liberado para visitações desde ofim do ano, quando, mui­to discretamente, com alunos em férias, foram retirados os ta­pumes que o rodeavam. Não foi realizada nenhuma cerimônia de inauguração, ninguém bateu palmas e, segundo o Núcleo de Estudos da Violência da USP, responsável pelo monumento, não há comemoração à vista.

Na administração, o assunto é tratado de forma lacônica. Nem boletins e blogs oficiais anun­ciam a obra - um conjunto de 11 blocos, com 20 metros de com­primento e 2,6 m de altura, nos quais estão gravados os nomes de 38 mortos e desaparecidos que, de alguma maneira, tiveram os nomes ligados à USP. O pri­meiro da lista é Alexandre Vannuchi Leme.

Planejada em 2009, a obra foi financiada pela Petrobrás e exe­cutada pelo Fundo de Apoio à USP. Em2 011, quando estava sendo erigida, ficou no vórtice de uma polêmica envolvendo o rei­tor, João Grandino Rodas, fami­liares dos homenageados, ex- resos políticos, estudantes e mi­litantes de direitos humanos. O motivo era uma inscrição no ta­pume que cobria a obra, na qual se lia que era para lembrar víti­mas da "Revolução de 1964".

Essa expressão, usada pelos militares para se referir ao golpe que depôs João Goulart, é sem­pre associada aos defensores da ditadura. No caso, a associação foi com Rodas, que já estava sen­do acusado de autoritário - por ter permitido a entrada da Polícia Militar no câmpus, para repri­mir estudantes que haviam inva­dido o edifício da Reitoria.

Rodas mandou refazer o tapu­me e disse que tudo se devia à "desinformação do redator". Mesmo assim, correu pelo câmpus um abaixo-assinado, cujo texto recusa a obra.

Essa polêmica explica a abertu­ra em surdina do monumen­to, quef oi originalmente plei­teado por entidades de defesa de direitos humanos e custou quase R$ 100 mil. /r.a.

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