Título: Cristina quer ser a herdeira de Chávez
Autor: Lameirinhas, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2013, Internacional, p. A11

Cristina Kirchner pretende lide­rar o movimento nacional e po­pular na América do Sul deixada por Hugo Chávez, acredita o jor­nalista argentino Jorge Lanata. Em entrevista ao Estado, ele afir­ma que o bloco é composto por países como Argentina,Venezue­la, Equador e Bolívia, além de Ni­carágua e Cuba. Lanata, que foi detido e interrogado pelo Servi­ço Bolivariano de Inteligência durante sua cobertura das elei­ções presidenciais na Venezue­la, em outubro, acredita que o controle oficial da mídia ajudará o chavismo a manter-se no po­der. A seguir, os principais tre­chos da entrevista.

Como o sr. analisa o segredo que o governo venezuelano man­teve sobre a doença de Chávez?

O governo venezuelano mane­jou a doença dele como um se­gredo deliberado que, para mim, foi equivocado. A única coisa que fizeram foi provocar mais rumores sobre o que esta­va ocorrendo. Inclusive, fize­ram uma campanha para des­mentir que Chávez tinha cân­cer.

Como foi sua detenção em Caracas?

Houve pressão de todo tipo por­que divulgamos um expediente interno do serviço de inteligên­cia venezuelano que tinha feito investigações sobre jornalistas. Outros jornalistas estrangeiros eram seguidos na Venezuela. O colunista Carlos Pagni, do La Nación, disse uma frase que me parece exata: a Venezuela é um espelho que antecipa a Argenti­na. Eu acho que isso mostra muito bem o que pode ser a Ar­gentina. Há muitos pontos de contato.

Cristina fica mais isolada sem Chávez?

O acordo com o Irã, que a Cris­tina impulsionou, é um efeito do que ela intuiu: que o final de Chávez estava próximo e ela tentará se apresentar como uma líder regional desse bloco. Cristina deve ter pensado que, com o desaparecimento de Chávez, poderia assumir a lideran­ça desse grupo de países, já que o Equador e a Bolívia não têm o peso político e econômico que a Argentina tem. Ela estaria em uma posição favorável. Cristina está tentando ser líder do que poderíamos chamar de bloco de países emergentes indepen­dentes.