Título: Argentina busca meios para manter obra da Vale
Autor: Guimarães, Marina
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2013, Economia, p. B6

Governo lamenta decisão "unilateral" da empresa de abandonar projeto Rio Colorado

O governo argentino de Cristina Kirchner lamentou a "decisão unilateral da empresa Vale, de capitais brasileiros com sede jurídica no reino dos Países Baixos, de abandonar o projeto Potássio Rio Colorado, apesar dos esforços realizados por parte do Estado e das jurisdições provinciais e municipais envolvidas para garantir sua continuidade".

O governo avisou que "buscará todos os meios para continuar o projeto e recuperar a dinâmica de trabalho prevista, levando em conta o forte impacto econômico e social que produz o abandono do empreendimento por parte da empresa Vale".

Em nota publicada pelo site de imprensa da presidência, o governo apontou os pedidos feitos pela companhia para evitar a suspensão do projeto, mas não reconheceu problemas relacionados à elevação dos custos do projeto provocada pela alta inflação no país e das restrições cambiais que impõem uma abertura de mais de 50% entre o câmbio oficial e o paralelo, além da proibição de remessas de lucros e dividendos.

"O pretexto da Vale foi que estimou, inicialmente, um montante de US$ 5,9 bilhões de investimento para desenvolver o projeto, destinados à construção da mina, a infraestrutura de transporte associada (400 novos quilômetros de ferrovia), a construção de um terminal portuário próprio e uma geradora de eletricidade e os investimentos necessários para dar coesão integral ao projeto. Dois meses depois de seu início, a Vale elevou sua estimativa a US$ 8,6 bilhões e mais tarde elevou a US$ 10,9 bilhões, o que afeta significativamente a competitividade e o atrativo do projeto, segundo manifestou (a empresa)", explicou a nota do governo.

O comunicado disse, no entanto, que o certo é que a atual crise econômica internacional, originada nos países desenvolvidos, vem produzindo impacto forte nos níveis de consumo desenvolvimento de novos projetos ao redor do mundo, entre os quais se encontra Potássio Rio Colorado".

Detalhes. Pela primeira vez, desde que a companhia brasileira manifestou problemas com o projeto no país, o governo de Cristina Kirchner deu detalhes das negociações. "Para dar continuidade ao investimento comprometido, a Vale exige que se programem, entre outras, as seguintes medidas: pagamento com bônus da dívida externa no valor nominal, recuperação antecipada do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), eliminação de impostos de exportação de cloreto de potássio e redução dos compromissos de investimento junto às diferentes jurisdições."

Também pela primeira vez o governo argentino revelou o valor dos benefícios fiscais e cortes de gastos pedidos pela Vale. "O conjunto do que foi solicitado implicaria um aporte estatal de aproximadamente US$ 3 bilhões no curso de dois anos e sem nenhuma contrapartida", reclamou o governo.

A Casa Rosada explicou ainda que, diante das dificuldades da Vale, "o governo federal e as diferentes jurisdições envolvidas no projeto se comprometeram ao diálogo permanente e, em todo momento, propuseram alternativas para garantir a continuidade da construção do projeto". Para a presidente Cristina Kirchner, apesar do contexto atual de crise internacional, "o projeto ainda mantém seu atrativo econômico e financeiro".

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