Título: Líder do PMDB nega acordo de evangélicos com bancada ruralista
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2013, Nacional, p. A6

Eduardo Cunha responde à acusação de petista sobre estratégia para barrar projetos em prol de quilombolas e índios

O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), negou que tenha intermediado acordo entre ruralistas e evangélicos para garantir ao pastor Marco Feliciano (PSC-SP) a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Casa e evitar o avanço de projetos que tratam de quilombolas e de reservas indígenas, como afirmou o deputado Domingos Dutra (PT-MA), ex-presidente do colegiado. Cunha disse que não há restrição a nenhum projeto, mas que a comissão não pode ser "monotemática" e tratar só das causas dos homossexuais. "E uma comissão de defesa dos direitos humanos ou de defesa do movimento gay?", questionou o deputado, que é evangélico.

Cunha rejeitou a tese de que, sob o comando do pastor, a comissão se afaste da sociedade civil. Feliciano é acusado de homo-fobia e racismo e foi eleito, na quinta-feira, em sessão fechada, longe dos protestos da véspera. "Não se pode impedir ninguém de ser presidente de comissão. Só esse grapinho que estava lá (na Câmara, protestando contra a escolha de Feliciano) é que dialoga? A comissão tem muitos temas a tratar: violência nos presídios, quilombolas, pedofilia, violência contra a mulher e também questões do movimento gay. Mas não pode ser monotemática", afirmou Cunha.

"Falta de opção". Segundo o líder do PMDB, depois de vários acertos entre os partidos, restaram as presidências de apenas duas comissões, a de Direitos Humanos e a de Legislação Participativa. O PSC escolheu a primeira.

"O PSC não reivindicou a Comissão de Direitos Humanos. Não foi por opção, foi por falta de opção", disse o peemedebista. "Como é um partido de maioria evangélica, foi escolhido um deputado evangélico. Minha participação foi fazer cumprir o acordo entre os partidos, nada além disso."

O líder afirmou que, na quarta-feira, ainda tentou que o PT abrisse mão da Comissão de Relações Exteriores, que passaria ao PMDB, e ficasse com Direitos Humanos. Com isso, o PSC ocuparia a Comissão de Fiscalização. "O PT não aceitou", disse.

Anota acusa ainda ativistas de grupos que protestaram contra a eleição de Feliciano ao cargo de terem divulgado o vídeo nas redes sociais. Feliciano disse que estava "brincando" ao pedir a senha para o fiel.

A resistência ao nome de Feliciano se deve porque ele é acusado de ser racista e homofóbico. Em 2011, o pastor escreveu no Twitter que o amor entre pessoas do mesmo sexo leva "ao ódio, ao crime e à rejeição".

Protestos. Um grupo de internautas iniciou uma mobilização no Facebook para promover hoje manifestações em dez cidades do País contra a nomeação de Feliciano à presidência da Comissão de Direitos Humanos. Chamado de "Ato de Repúdio" à nomeação do parlamentar, o evento deve acontecer simultaneamente. Em São Paulo, os manifestantes devem se concentrar na Avenida Paulista com a Rua da Consolação. A "convocação" é assinada por "minorias" brasileiras, que se dizem descontentes com a indicação.