Título: Marin usa CBF para se explicar sobre Herzog
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2013, Nacional, p. A7

O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, resolveu utilizar o site da instituição para se defender da acusação política de que teria apoiado a ditadura militar e a perseguição de dissidentes. Ontem à tarde o site da entidade estampava, logo na sua abertura, a seguinte manchete: Desmascarando uma falsidade.

Era o título do editorial produzido pela assessoria da CBF com o objetivo de refutar as acusações contra Marin, referentes ao período em que ele ainda era deputado estadual, pela extinta Arena - o partido que dava aparência legal à ditadura. Segundo o editorial, as acusações fazem parte de "uma torpe campanha", baseada em "mentiras e deturpação de fatos do passado", com o intuito de conturbar "as atividades do futebol brasileiro num momento de notória importância e delicadeza, quando se avizinha a realização, no Brasil, da Copa Mundial de 2014".

A questão da relação entre Marin e a ditadura provoca polêmica desde que ele assumiu o cargo, um ano atrás. No mês passado o assunto ganhou mais impulso com o lançamento, pela internet, de uma petição cobrando a sua destituição do cargo.

Até a tarde de ontem, a petição já havia recebido, o apoio de 38 mil pessoas. Quando for atingida a meta de 50 mil assinaturas, ela será encaminhada à CBF.

Quem está à frente da iniciativa é Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, assassinado em 1975, quando se encontrava detido nas dependências do Departamento de Operações e Informações (DOI), controlado pelo Exército, em São Paulo. Discurso. Ivo está convencido de que Marin estimulou a perseguição ao pai dele, que trabalhava na TV Cultura. A prova mais evidente seria um discurso feito pelo atual presidente da CBF, no dia 9 de setembro de 1975, no plenário da Assembleia de São Paulo. Na ocasião ele pediu providências das autoridades para fossem apuradas denúncias de que a TV Cultura, que é estatal, estaria sendo utilizada por jornalistas de esquerda para fazer proselitismo político.

Poucos dias depois, Herzog foi preso e morto sob tortura.

O editorial da CBF afirma que Marin não discursou no dia 9 de outubro de 1975.0 que está registrado na Assembleia, segundo o site, é um aparte que ele fez ao discurso de um colega arenista, o deputado Wadih Helu. Na ocasião ele teria pedido explicações sobre o tema em debate, sem entrar no mérito.

O site reproduz o discurso de Helu e o aparte da Marin. Baseado em informações e insinuações publicadas pelo jornalista Cláudio Marques, que defendia o regime militar e assinava uma coluna em um j ornai de distribuição gratuita e com grande circulação em São Paulo, Helu afirmou que os programas da Cultura estavam dominados por uma visão "comunizante".

Os jornalistas da televisão estatal, disse Helu, se dedicavam a enaltecer "líderes de esquerda de outros países" e ao "proselitismo do comunismo".

Em seu aparte, Marin cumprimentou o colega pela escolha do tema e exigiu explicações do governo. "Sem entrar no mérito, causa-me estranheza quando os órgãos de imprensa do nosso Estado de há muito tempo vem levantando esse problema... e não verificamos pelo menos nenhuma palavra de esclarecimento."

Marin disse que o assunto provocava "intranquilidade" e já era comentado "em quase todos os lares de São Paulo". De maneira explícita, pediu manifestações do secretário da Cultura do Estado, José Mindlin.

Foi uma espécie de constrangimento público, uma vez que Mindlin era reconhecido por suas posições favoráveis à abertura política. Para Marin, ele deveria esclarecer as denúncias que estavam sendo levantadas "de forma corajosa pelo jornalista Claudio Marques".

Explicações. Ao tomar conhecimento da iniciativa da CBF, Ivo Herzog manifestou surpresa. "Há um ano a entidade vinha dizendo que não iria se manifestar sobre o assunto porque se tratava de uma questão particular. E agora? O que mudou?"

Na opinião de Ivo, a presença de Marin na presidência da CBF compromete a imagem do Brasil: "É como se a Alemanha tivesse convidado um membro do antigo partido nazista para organizar a Copa de 2006".