Título: Chávez se mantém como figura central da primeira eleição sem ele em 14 anos
Autor: Lameirinhas, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2013, Internacional, p. A9

Os dois principais candidatos à presidência venezuelana para as eleições de 14 de abril formalizaram ontem suas candidaturas ante o Conselho Nacional Eleitoral (GNE). O chavista Ni-colás Maduro, atual presidente, chegou ao GNE dirigindo um ônibus em meio a uma multidão e aos gritos de "Chávez vive, a luta segue". Por seu lado, o governador de Miranda, o opositor Henrique Capriles, oficializou a inscrição discretamente.

A eleição de abril será a primeira disputa presidencial venezuelana sem Hugo Chávez - morto há uma semana, após quase dois anos de luta contra o câncer - em mais de 14 anos. No entanto, o lídervenezuelano, cujo corpo segue sendo velado na Academia Militar, será o personagem principal do processo eleitoral.

E foi invocando o nome de Chávez que Maduro, ex-motorista de ônibus e ex-sindicalista, discursou por duas horas no palanque montado na frente da sede do CNE. "Somos todos Chávez", anunciou o candidato, entre novos ataques ao rival, Capriles, e à aliança de grupos opositores Mesa da Unidade Democrática (MUD). "Nunca voltarão a explorar os venezuelanos. A burguesia, liderada por esse senhor de sobrenome, não freará a revolução bolivariana."

Maduro também nomeou o seu comando de campanha, que será formado pelos principais líderes chavistas, incluindo sua mulher, Cilia Flores, e o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello. A equipe ganhou o nome de "Comando de Campanha Hugo Chávez".

Os discursos da véspera já tinham dado o tom da campanha. Capriles, derrotado por Chávez na eleição de 7 de outubro, fez duras acusações a Maduro, afirmando que ele mentiu ao país sobre a saúde do líder bolivariano e pôs em dúvida a data da morte do presidente.

Capriles também criticou duramente o ministro da Defesa, almirante Diego Molero, que dias ante s tinha dito que as Forças Armadas estariam ao lado da preservação da "revolução bolivariana" de Chávez.

Maduro, imediatamente depois, reagiu, qualificando o adversário de "fascista" e "miserável", acusando-o de desrespeitar a memória de Chávez e anunciando que a família do líder "se reserva o direito de tomar medidas judiciais cabíveis" para preservar o nome dele.

A crítica aos militares teve resposta ainda mais dura ontem, por meio do comandante da Guarda Nacional, general Wil-mer Barrientos. "Ouvimos ontem algumas declarações desrespeitosas por parte de alguns setores políticos. Estou aqui para garantir que as Forças Armadas zelarão por eleições justas, limpas e transparentes como sempie fizemos. Pedimos a todos os atores envolvidos, o respeito devido às F orças Armadas", afirmou.

Estratégia. "A tática dos dois lados está clara. A oposição se esforçará para afastar Maduro da imagem de Chávez, enquanto os chavistas buscarão aproveitar a comoção popular causada pela morte de seu líder e reforçar a imagem de seu candidato como o herdeiro designado pelo próprio Chávez", disse ao Estado o analista Francisco Olivera.

"Maduro não é Chávez", disse Capriles no domingo à noite. "Somos todos Chávez", reagiu Maduro, minutos depois.

"A missão dos chavistas é mais simples, levando-se em conta que este será um debate curto. No momento da campanha, Chávez não é apenas uma memória, mas sim um grande eleitor", afirma o diretor da empresa de pesquisas Datanálisis, Luis Vicente León. "Esta será uma luta entre o terreno e o divino, e o divino é representado pelo chavismo."

"Maduro só perderá essas eleições caso cometa algum erro" muito grotesco", afirmou o jornalista do jornal El Universal Oscar Medina. "Mas a paciência da população com ele não será a mesma que ela tinha com Chávez se os problemas do país - a inflação e a criminalidade - se aprofundarem durante seu mandato."