Título: BC atua e analistas veem R$ 1,95 como piso para o dólar
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2013, Economia, p. B4

Leilão no mercado futuro faz moeda americana inverter tendência de queda ante o real; alta de 0,41% leva cotação para R$ 1,958

Um leilão realizado ontem pelo Banco Central (BC) no mercado futuro de câmbio deixou analistas e operadores com a impressão de que, para o governo, o ‘novo’ piso da moeda americana é de R$ 1,95. A venda do chamado contrato de swap cambial reverso eqüivale, na prática, à compra de dólar pelo BC.

Com isso, a tendência de queda da moeda americana verificada logo na abertura dos negócios foi revertida. No fim do dia, a moeda americana se valorizou 0,41%, para R$ 1,958. No acumulado do ano, o dólar perde pouco mais de 4% ante o real.

Os ganhos pela manhã se amparavam na ideia de que o governo Dilma Rousseff usaria a taxa de câmbio para ajudar no combate à inflação, que segue pressionada. O leilão do BC pôs fim a essa ideia, ao menos momentaneamente.

Um operador de banco disse que, ao segurar uma queda maior do dólar de manhã, a autoridade monetária reforçou os sinais recentes de que a taxa de juros - e não o câmbio - é o instrumento a ser usado para conter a inflação. Em meados de fevereiro, durante a reunião do G-20 em Moscou, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi claro sobre isso. Na ocasião, ele afirmou que o principal instrumento para frear a inflação é a taxa de juros (Selic). O último leilão de swap reverso havia ocorrido em 15 de fevereiro, quando o dólar à vista atingiu a mínima de R$ 1,952 e o BC fez a operação, na qual vendeu a oferta integral de US$ 1,350 bilhão. Ontem, foram negociados US$ 999,7 milhões.

A subida do dólar não teve influência no mercado juros, onde as taxas de curto prazo caíram em meio a avaliações sobre o impacto na inflação oficial da desoneração dos produtos da cesta básica, anunciada sexta-feira. Mesmo em queda, as taxas futuras seguem apontando uma alta de pelo menos 0,25 ponto porcentual da taxa Selic em abril, para 7,5% ao ano.

O mercado mantém as apostas em um juro básico mais alto em abril, depois que a pesquisa Focus do BC, divulgada ontem, mostrou que houve, pela segunda semana seguida, uma revisão para cima das projeções para a inflação medida pelo IPCA para 2013, de 5,70% para 5,82%.

Também foram revisados para o alto na Focus a perspectiva para a Selic no fim de 2013, que subiu de 7,25% para 8,00%; e a expansão estimada para o PIB em 2013, que passou de 3,09% para 3,10%. A taxa de câmbio proje- tada para o fim do ano, por sua vez, permaneceu em R$ 2,00.

Àtarde, a moeda americana desacelerou os ganhos ante o real, em meio ao fluxo cambial levemente positivo. Segundo outro operador de mercado, também favoreceram esse movimento o anúncio de um superávit de US$ 236 milhões da balança comercial do País em março até o dia 10 e a melhora das bolsas nos Estados Unidos.

Balança comercial. Em Nova York, os índices de ações se firmaram em alta na sessão vespertina, enquanto o dólar ampliou a queda ante o euro e a algumas moedas correlacionadas a com-modities no exterior.

No meio da tarde, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) informou que a balança comercial registrou superávit de US$ 236 milhões em março até o dia 10, resultado de exportações de US$ 5,734 bilhões e importações de US$ 5,498 bilhões no período.

Trata-se do melhor dado de 2013, que só teve mais um superávit, de US$179 milhões, na terceira semana de fevereiro. No ano, porém, o saldo comercial ainda tem déficit deUS$ 5,079 bilhões, com exportações totais de US$ 37,250 bilhões e importações de US$ 42,329 bilhões.