Título: Governo diz que dados defasados prejudicam País
Autor: Moura, Rafael Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2013, Nacional, p. A5

Ministros criticam fato de índice usar informações de 2005, apesar de haver números recentes disponíveis; oposição faz ironias online

O governo federal contestou ontem o resultado do Índice de Desenvolvimento Huma­no (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desen­volvimento (Pnud). Afirmou que os dados desatualizados levaram a distorções e preju­dicaram o desempenho brasi­leiro.

"Alguns países podem não ter dados atualizados, mas nós te­mos. (O Pnud) sistematicamen­te usa dados que não reconhece­mos, dados defasados", disse a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello. "Os dados brasilei­ros (do relatório) estão incorretos, a avaliação é injusta com o Brasil."

Na entrevista coletiva em que os números foram apresenta­dos, o Pnud reconheceu que não usa os mais recentes. Mas há uma razão metodológica para is­so: para permitir comparações entre diversos países, é preciso usar dados do mesmo ano para todos. Se o IDH brasileiro fosse calculado com base nos núme­ros mais recentes, subiria de 0,73 para 0,754, segundo o próprio Pnud.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, também criti­cou o levantamento: "Se distri­buímos renda, se reduzimos a po­pulação em extrema pobreza, se temos uma grande mobilidade so­cial, por que o indicador do IDH não reflete tudo que fizemos?"

Apesar das queixas, o 85.º lu­gar no ranking anual do IDH ga­rante o País no grupo de Desen­volvimento Humano Alto. "Fi­quei com os sentimentos dividi­dos", afirmou a ministra Tereza Campello. "A leitura do relatório qualitativo particularmente nos orgulhou. Durante todo o relató­rio há referências elogiosas, so­mos citados como modelo de no­vo desenvolvimento inclusivo, novo paradigma, em vários mo­mentos o Brasil é destacado co­mo referência has inovações de políticas sociais", afirmou. "Quando vamos para a constru­ção dos indicadores, os dados continuam desatualizados."

Em nota, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio­nais Anísio Teixeira (Inep) disse que os dados de educação usados no relatório do IDH são "de 2005 e de fontes não reconhecidas pe­las agências estatísticas nacio­nais".

Segundo o instituto, dois im-portantes indicadores da área de educação "apresentam graves distorções". "No que se refere à média de anos de escolaridade, os dados do IBGE 2011 indicam um valor de 7,4 anos para a popu­lação de 25 anos ou mais, enquan­to o Pnud utiliza um valor de 7,2 anos. Quanto aos anos de escola­ridade esperados, o Pnud apre­senta um valor para o Brasil igual a 14,2, que se mantém constante desde o ano 2000. A razão dessa grave distorção, além da descon­sideração dos dados oficiais mais recentes, é a não considera­ção das crianças de 5 anos matri­culadas na pré-escola, bem co­mo das matriculadas nas Classes de Alfabetização (CA), ou seja, são desconsiderados no cálculo cerca de 4,6 milhões de matrícu­las de crianças brasileiras", diz a nota do Inep.

"Só queremos que corrijam aquilo que é de direito do País", disse Mercadante. Ele informou que funcionários do governo vão para Nova York para discutir o tema com técnicos do Pnud.

Oposição. O PSDB aproveitou o anúncio do ranking para criti­car a presidente Dilma Rousseff mo Twitter. "Brasil atrás de Azer­baijão, Peru, Albânia, México, Uruguai, Argentina e muitos ou­tros. Esse é o País do fim da misé­ria da Dilma?", escreveram os tu­canos responsáveis pelo perfil @Rede45, do PSDB nacional.

Em outro perfil, o PSDB de São Paulo ironizou: "ONU não acha maravilhas anunciadas por Dil­ma na TV. Brasil continua em 85° no ranking de desenvolvi­mento humano". /colaborou RICARDO CHAPOLA