Título: Cautela é senha para elevação de juros a conta-gotas
Autor: Froufe, Célia ; Cucolo, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2013, Economia, p. B1

No lacônico comunicado expedido logo após o encerramento da reunião do Copom, semana passada, o Banco Central já deixara entender que a estabilidade dos juros básicos havia subido no telhado e que um novo ciclo de altas se avizinhava. Na ata da reunião, divulgada ontem, as motivações para esse movimento ganharam detalhamento e reforço.

Essas motivações derivam da elevação, admitida pelo BC, não só dos níveis de inflação, para 2013 e 2014, mas também das preocupações com a trajetória adversa e disseminada das altas de preços. A preocupação aparece em várias partes do documento até culminar com a sumarização do parágrafo 28. Nele, o BC considera, pela primeira vez, que as pressões inflacionárias podem não ser temporárias, refletindo uma “eventual” acomodação em patamar mais elevado.

Uma palavra, no entanto, chamou especialmente a atenção dos tradutores juramentados do “coponês” - o charadístico idioma das atas do Copom. Ela está inserida no final do mesmo parágrafo 28 da ata, talvez o mais importante dos 76 que a compõem. Essa palavra é “cautela”, com a qual o BC sugere que a política monetária deve ser conduzida, apesar das evidências das pressões inflacionárias, devido a incertezas nos ambientes externo e interno.

A tradução dessa ressalva, para um grupo grande de versados em “coponês”, é que o novo ciclo de alta na taxa básica não terá início na reunião do Copom de abril. Além de ficar para maio, a “cautela” da ata indicaria que o BC quer esperar os efeitos de várias ações do governo, inclusive a desoneração tributária da cesta básica, anunciada depois da reunião do Copom. Indicaria também que as elevações poderiam ser realizadas a conta-gotas, em doses de 0,25 ponto por vez, levando a taxa a 8,25% ou 8,5% até o fim do ano.