Título: O comércio varejista cresce apesar da inflação
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2013, Economia, p. B2

O comércio varejista restrito cresceu 0,6% entre dezembro e janeiro e 5,9% em relação a janeiro de 2012, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE. O que surpreendeu, mais do que o comportamento moderadamente positivo após um mês negativo, é que a inflação não tenha afetado mais o resultado das vendas de supermercados, hipermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo. Estas representam cerca de 50% do total do faturamento do comércio restrito - que exclui as vendas de veículos, autopeças e materiais de construção - e subiram 1,4%.

A interpretação dos técnicos do IBGE, aparentemente correta, é de que o vigor das vendas se explique pelo aumento da renda e os baixos índices de desemprego. Mas cabe indagar se outros segmentos não puxarão o comércio para baixo.

Entre os segmentos cujas vendas mais cresceram estão equipamentos e material para escritório, informática e comunicação. É um indício de investimentos tanto das famílias, em que mais pessoas estudam ou ingressam nas universidades, como das empresas, que se preparam para um período de retomada neste ano.

Mas, em janeiro, as vendas do comércio ampliado foram afetadas negativamente pelo comportamento do segmento de veículos e motos, partes e peças (-1,2%). O dado contrasta com o do aumento dos licenciamentos de veículos, mas pode ter sido afetado pelas vendas de motos.

De forma geral, os números do comércio continuam expressivos, na comparação anual. Comparando os últimos 12 meses e os 12 meses anteriores, o volume de vendas cresceu 8,3% reais. Mas os números de janeiro não bastam para antecipar o comportamento das vendas do comércio varejista ao longo de 2013. Alguns analistas trabalham com a hipótese de um avanço da ordem de 6%, o que depende do comportamento do conjunto da economia.

No plano positivo, há sinais de recuo dos níveis de inadimplência, mas, como o endividamento das famílias é elevado, é improvável uma mudança drástica nesse indicador. No plano negativo, a inflação de quase 1,5% no primeiro bimestre reduz o poder aquisitivo. Algumas categorias, como as que dependem do salário mínimo ou do INSS, só terão correções no ano que vem. Além disso, é crescente a probabilidade de alta dos juros básicos, o que tornará o consumo menos atraente.

As vendas do comércio, afinal, poderão depender mais de itens de alto valor, como veículos, cujos preços voltaram a subir neste ano.