Título: Novos assentamentos lançam sombra sobre diálogo entre Israel e palestinos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2013, Internacional, p. A8

Em Maalot David, no enclave palestino de Ras al-Amud, algumas famílias judias se estabeleceram discretamente em apartamentos recém-reforma-dos com vistas privilegiadas da Cidade Velha de Jerusalém. Maalot David não é um assentamento judeu típico, onde a comunidade judaica vive isolada dos vizinhos árabes.

O novo conjunto de apartamentos está encravado no tecido social da Jerusalém Oriental árabe, uma construção que muitos dizem que basicam ente solapa a ideia de que a área poderia um dia servir de capital para um Estado palestino.

A construção por Israel de bairros judaicos em Jerusalém Oriental e territórios da Cisjordânia capturados durante a guerra de 1967 tem sido um antigo ponto de atrito entre Jerusalém e Washington.

Com a programada viagem do presidente Barack Obama ao país nesta semana, o governo adiou ações em vários projetos em Jerusalém Oriental, para garantir que não haverá eventos incômodos - como quando o vice-presidente Joe Biden chegou, em 2010, e foi recebido com o anúncio de 1.600 novas unidades.

Há semanas o jornal Jerusalém Post vem publicando anúncios promovendo Maalot David e outro conjunto de apartamentos novo, Beit Orot - ambos desenvolvidos pelo setor privado para compradores privados - como um "sonho que virou realidade" por sua proximidade da Cidade Velha e do cemitério judeu de 3 mil anos no Monte das Oliveiras.

Apesar de a maioria dos especialistas no conflito israelense-palestino imaginar há tempo uma Jerusalém com bairros judeus ficando em Israel e os árabes numa futura Palestina, esses novos prédios tornam esse plano complicado, se não impossível - o que pode ser justamente sua intenção. "O mundo vive falando de dividir Jerusalém - isso é conversa fiada", disse Daniel Luria, diretor executivo da Ateret Coha-nim, uma organização que não está envolvida nos dois projetos, mas liderou muitos outros esforços para estabelecer cabeças de ponte judaicas na área. "O que ocorreu desde 1967 na Cidade Velha e em torno da Cidade Velha tornou irrelevante qualquer discussão sobre dividir Jerusalém da maneira como os árabes veem, porque, na prática, não vai acontecer."

Líderes palestinos dizem que Maalot David e Beit Orot são parte de uma insidiosa atividade israelenses em torno da chamada Bacia Sagrada, de locais santos parajudeus, cristãos e muçulmanos. "E tudo parte de um plano para comprometer a solução de dois Estados e de Jerusalém Oriental ser a nossa capital", disse Saeb Erekat, o principal negociador palestino, na quinta-feira, durante um tour para diplomatas estrangeiros interessados em detalhar a questão antes da visita de Obama. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e a maioria dos líderes de sua nova coalizão defendem o direito de Israel de construir em qualquer ponto da cidade, apesar da anexação de áreas árabes, em 1967, não aceita internacionalmente.

Daniel Seidemann, um advogado e opositor dos assentamentos que documenta construções israelenses emJerusalém Oriental, calcula que existam 196 mil judeus vivendo nessas áreas. A vasta maioria está estabelecida, em geral, em bairros como French Hill, perto da Universidade Hebraica, ou Har Homa, na borda sul da cidade, e não são vistos pela maioria dos israelenses como colonos.

Beit Orot e Maalot David surgem num momento particularmente tenso - com o processo de paz há muito estagnado, a confiança entre as partes pratica- mente ausente e a condenação internacional dos assentamentos em geral se intensificando. Aumentando aos temores dos críticos dos assentamentos, o novo governo israelense concluído na sexta-feira nomeou para ministro da Habitação e Construção um ex-líder do conselho de colonos, cujo Partido Lar Judaico se opõe à criação de um Estado palestino. / the wew york umes