Título: Serra ameaça sair de partido se não for presidente do PSDB
Autor: Duailibi, Julia ; Boghossian, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2013, Nacional, p. A6

Em conversas reservadas, ex-governador tucano faz exigências, chama Aécio de coronel e diz que poderá apoiar Campos em 2014

O ex-govemador José Serra deu um ultimato à direção do PSDB e informou que deixará o partido caso não seja con­templado na nova formação da direção partidária, que será eleita em maio. Segundo os tu­canos, Serra quer a presidên­cia do PSDB, e ameaça sair da legenda e não apoiar a candida­tura do senador Aécio Neves (MG) ao Palácio do Planalto.

A informação chegou à dire­ção do PSDB no fim desta sema­na, por meio de três parlamenta­res alinhados ao ex-governador. Ciente da situação, Aécio telefo­nou para Serra na quarta-feira, mas até ontem não tinha conse­guido falar com o ex-governa­dor. O mineiro pretende desem­barcar em São Paulo domingo ou segunda para ter uma nova con­versa com o ex-governador. Serra, no entanto, teria dito que não está disposto a dialogar mais se o assunto da presidência da sigla não entrar na pauta.

A seus interlocutores, Serra passou a criticar duramente o se­nador mineiro. Chegou a chamá- lo de "coronel" e o acusou de ter prejudicado sua campanha presi­dencial em 2010, quando foi lan­çado o livro A Privataria Tucana, no qual sua filha é citada. Serra já disse mais de uma vez - e a várias pessoas - que o livro teria sido produzido com o apoio de Aécio, já que o autor é um jornalista de Minas Gerais.

Segundo o recado enviado à di­reção do PSDB, se Serra não tiver a presidência do partido, ele sai­rá da legenda e apoiará a candida­tura ao Planalto do governador de Pernambuco, Eduardo Cam­pos (PSB). "O Aécio terá que es­colher se prefere ter a presidên­cia do PSDB, com Serra na cam­panha de Eduardo Campos, ou disputar a Presidência da Repú­blica com o apoio de Serra", dis­se um dos parlamentares ligados ao tucano paulista.

A direção do PSDB já está fe­chada em torno da candidatura de Aécio à presidência do parti­do. A cúpula do legenda avalia que o cargo é imprescindível pa­ra que o senador prepare sua campanha ao Planalto. A direção tucana daria ao mineiro exposi­ção e palanque pelos Estados.

No fim da semana passada, Serra se encontrou com o gover­nador Geraldo Alckmin e mani­festou insatisfação com o grupo de Minas, que estaria atropelan­do São Paulo. O tucano também teria manifestado insatisfação com o rumo das negociações in­ternas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que pas­sou a fazer um meio de campo entre os dois grupos. Procurado pelo Estado, o ex-presidente disse que não comentaria o as­sunto neste momento o assun­to. Serra se limita a dizer que "há muita fofoca" sobre sua vida po­lítica.

De acordo com as conversas dos últimos dois diás, o ex-gover­nador estaria disposto a apoiar a candidatura de Aécio à Presidên­cia se obtivesse um sinal positi­vo em favor da unidade - ou seja, a presidência do partido. Serra poderia, inclusive, fazer o anún­cio nas próximas semanas.

Serra mantém conversas com o presidente do PPS, Roberto Freire, e poderia migrar para a legenda do aliado, que já lhe ofe­receu guarida desde 2010, quan­do perdeu a eleição presiden­cial. O partido de Freire busca uma fusão com o PMN. Se as duas siglas se unirem, parlamen­tares poderão migrar para o no­vo partido sem risco de perder os mandatos. A legenda teria, en­tão, condições de criar uma ban­cada mais fortalecida, inclusive para ter candidato à Presidên­cia.

Pressão. Apesar da movimenta­ção nos bastidores, os tucanos avaliam que Serra não deixará o PSDB, partido que foi fundado por ele em 1988. 0 ex-governador estaria usando a possibilidade de deixar a legenda como forma de pressionar na negociação para compor a nova direção do PSDB.

O formato em estudo pela atual direção, alinhado ao projeto de Aé­cio, previa o senador mineiro na presidência do partido, com a ces­são do segundo cargo na estrutu­ra partidária, a secretaria-geral, a um paulista ligado a Alckmin.

Em 2011, Serra pleiteou a presi­dência do PSDB, mas o atual pre­sidente, deputado Sérgio Guerra (PE), foi reeleito com o apoio de Aécio. Os tucanos ligados ao ex- governador tentaram emplacá- lo no Instituto Teotônio Vilela, centro de estudos do partido. Não conseguiram. Aliados de Aé­cio avaliaram que ele criaria uma presidência paralela no órgão.