Título: Criminoso da ditadura não pode ter cargo público, diz ministra
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2013, Nacional, p. A10

A ministra de Direitos Huma­nos, Maria do Rosário, disse ontem em São Paulo que pessoas envolvidas em situação de mor­te, tortura e desaparecimento forçado no período da ditadura militar não devem ocupar fun­ções públicas. Ela fez a afirma­ção ao responder a uma pergun­ta sobre as denúncias de que o atual presidente da Confedera­ção Brasileira de Futebol, José Maria Marin, teria contribuído para a morte do jornalista Vladi­mir Herzog.

"Eu penso que todas as pes­soas que comprovadamente esti­veram envolvidas em situação de morte, tortura e desapareci­mentos forçados não devem ocupar funções públicas no País", afirmou. "Porque os que comete­ram - e se cometeram comprova­damente estes atos -, traíram qualquer princípio ético de digni­dade humana e não devem ocu­par funções de representação."

A ministra não citou o nome de Marin e fez questão de enfati­zar que as denúncias precisam ser comprovadas. Ela esteve em São Paulo para participar da cerimônia realizada na USP para ho­menagear o estudante Alexan­dre Vannuchi Leme, morto sob tortura em 1973, e também para entregar oficialmente à família do jornalista Vladimir Herzog, também morto sob tortura, em 1975, o novo atestado de óbito.

A viúva de Herzog, Clarice, também falou na ocasião sobre a polêmica em torno de Marin. Lembrou que, pouco antes de Vladimir assumir seu cargo na TV Cultura, em 1975, o jornalista Cláudio Marques, que assinava uma coluna num jornal semanal de São Paulo, escreveu que aque­le emissora estava sendo toma­da por comunistas.

Coro. Logo em seguida, na Assembleia Legislativa, em São Paulo, o deputado Wadih Helu repercutiu e apoiou a denúncia do colunista. Na mesma ocasião, Marin cobrou explicações das au­toridades sobre as denúncias, que estariam gerando "intran­quilidade" nas famílias.

Pouco dias depois, Herzog, que era filiado ao Partido Comu­nista, foi preso e assassinado.

"Houve um coro, com o Wadih Helu e o Marin", lembrou Clarice, referindo-se ao episó­dio. "Tinha um pessoal que esta­va no poder e era absolutamente reacionário, a favor da tortura."

Circula atualmente na internet uma petição, que deve ser en­tregue à direção da CBF, cobran­do o afastamento de Marin da presidência da entidade. Ela foi lançada por Ivo Herzog, filho do jornalista, que deverá ir à sede da CBF, no Rio, assim que coletar 50 mil assinaturas.

Ainda na cerimônia de ontem, a ministra Maria do Rosário afir­mou que o Estado brasileiro ain­da deve explicações às famílias dos mortos e desaparecidos no período da ditadura. "Devemos produzir respostas que sejam coerentes, justas", afirmou. Para ela, a democracia no País vai se sentir envergonhada enquanto "todas as respostas não forem oferecidas às famílias".

A cerimônia de ontem, na USP, para homenagear Vladimir Herzog e Alexandre Vannuchi Leme, reuniu representantes dos governos de Fernando Hen­rique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff./R.A.