Título: Viúva de Herzog cobra nomes de agentes
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2013, Nacional, p. A10

Após 37 anos de espera, a famí­lia do jornalista Vladimir Her­zog recebeu ontem uma nova certidão de óbito com a causa correta da morte dele, ocorri­da em 1975, após sessões de tortura nas dependências do 2º Exército, em São Paulo. O novo documento substitui a definição anterior, "asfixia mecânica por enforcamento", por "lesões e maus tratos".

A família comemorou o reco­nhecimento do Estado, perante toda a sociedade, do assassinato do jornalista. Mas, na avaliação da viúva, Clarice Herzog, o docu­mento não significa um ponto fi­nal em sua luta. "Ainda quere­mos saber quem o matou", disse ela, logo após a cerimônia em que recebeu o atestado. "Todos aqueles que estavam envolvidos com a ditadura têm que ser des­mascarados."

Para Clarice, violações de di­reitos humanos não foram abran­gidas pela Lei da Anistia de 1979. "Nunca aceitei a Lei da Anistia para os torturadores. Não anis­tio assassinos, não anistio tortu­radores", afirmou. "O crime é im­prescritível. Estamos falando de assassinos que eram pagos para torturar e matar."

A viúva do jornalista também manifestou esperança na atua­ção da Comissão da Verdade pa­ra o esclarecimento de mortes, torturas e desaparecimentos ocorridos no período da ditadu­ra militar, entre 1964 e 1985. "A Comissão tem que ir adiante."

O novo atestado foi entregue à família durante cerimônia públi­ca realizada no Instituto de Geociências, na Universidade de São Paulo (USP). Na mesma oca­sião, em sessão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, foi oficializado o pedido de des­culpas do Estado brasileiro à fa­mília do estudante Alexandre Vannuchi Leme.

Persistência. Estudante do quarto ano de geologia da USP e militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), ele foi morto no dia 17 de março de 1973, aos 22 anos, também nas dependên­cias do 2.º Exército, em São Paulo. Segundo depoimentos de no­ve presos políticos, Alexandre foi torturado e morreu em de­corrência de "lesões traumáti­cas cranioencefálicas".

De acordo com a versão divul­gada pelas autoridades na época, Vanucchi teria sido atropelado por um carro ao tentar fugir da prisão. O corpo do estudante foi sepultado como indigente, numa vala comum no Cemitério de Pe­rus, em São Paulo. Só em 1983 a família conseguiu trasladar os res­tos mortais para Sorocaba, sua terra natal, no interior do Estado.

A entrega do documento à fa­mília Herzog, representada pela viúva, pelo filho Ivo, pelo neto Lucas e por Francisco Gunnar, atual marido de Clarice, foi feita pela advogada Rosa Maria Car­doso, integrante da Comissão Nacional da Verdade. Ela elogiou a persistência das famílias das vítimas da ditadura na busca pela verdade.

"Foi por causa dessa persistên­cia que chegamos a resultados como esse atestado de óbito, que renomeia as causas da mor­te", afirmou Rosa Maria.