Título: Chipre rejeita plano de resgate europeu
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2013, Economia, p. B10

Parlamentares do Chipre rejeitaram ontem a proposta do pacote de resgate internacional à ilha. Mesmo após a iniciativa do governo de suavizar o aperto aos pequenos poupadores, deputados rechaçaram o projeto necessário para que o país receba a ajuda de € 10 bilhões acertada com autoridades europeias. Diante do impasse, autoridades correm para costurar alternativas, como novas condições para o empréstimo ou outras fontes de ajuda.

Após horas de negociação entre partidos e o presidente Nikos Anastasiades, o pacote de resgate que inclui o confisco de parte dos depósitos bancários foi rejeitado por 36 votos, 19 abstenções e nenhum voto a favor.

Isso aconteceu porque parlamentares governistas do partido Disy decidiram se abster da votação. "Estamos com uma perna pendurada no abismo", reconheceu o vice-presidente do partido governista, Averof Neophytou. "A raiva e a amargura que sentimos pelos nossos vizinhos europeus não podem guiar nossas decisões. Não empurrem o Chipre para fora da zona do euro", pediu durante a votação.

Alternativas. Com a derrota do "plano A", Anastasiades corre em busca de uma alternativa. Amanhã, o governo começa a negociar com os partidos algumas opções ao confisco bancário que, pela proposta derrotada, deveria garantir € 5,8 bilhões aos cofres públicos. O presidente deve se reunir novamente com os partidos antes mesmo do encontro programado com as autoridades europeias. "Não temos apenas um plano B, mas também um plano C. Há muitos cenários sendo analisados", disse um membro do governo após a derrota.

Uma das perspectivas é a costura de um acordo que teria, ao mesmo tempo, o relaxamento do confisco aos clientes no Chipre e a tentativa de condições mais favoráveis no empréstimo

oferecido pelas autoridades internacionais.

Em paralelo, o governo da ilha também negocia um empréstimo do governo russo - país que tem forte interesse na solução do caso já que investidores da Rússia são donos de parte importante dos depósitos nos bancos cipriotas. Hoje, o ministro de Finanças da ilha, Michalis Sarris, desembarca em Moscou. Durante o dia, ontem, chegou a ser divulgado que Sarris havia renunciado rumor negado pelo próprio ministro.

Está também prevista na agenda do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, viagem de dois dias à Rússia a partir de quinta-feira, O : porta-voz europeu Olivier Bailly disse que a agenda não contempla reuniões específicas sobre o Chipre, mas autoridades que russas solicitaram a inclusão do te; ma na pauta.

Contingência. Enquanto isso, o Banco Central Europeu (BCE)já estaria preparando uma ação de contingência da crise para evitar uma fuga de recursos quando os bancos reabrirem. Segundo a agência Dow Jonesy a ação poderia impor limites aos saques diários das contas bancárias, restrições à movimentação eletrônica e controles para a saída de dinheiro vivo do país. Por enquanto bancos seguem fechados até amanhã, mas há chance de que agências só reabram as portas na terça -feira, dia 26.

Raoul Ruparel, analista da consultoria Open Europe, avalia que a decisão dos deputados "deixou Chipre em uma situação limite na zona do euro". Ao lembrar que nem mesmo uma proposta "suavizada" para os pequenos investidores foi suficiente para ganhar o apoio dos parlamentares, Ruparel avalia que as divisões po1 líticas estão enormes" na ilha. "Chipre ficará sem dinheiro em 3 de junho, quando o país tem de pagar € 1,4 bilhão em uma operação internacional. No entanto, a decisão sobre o tema terá de ser tomada muito antes disso, já que os bancos não podem ficar fechados por tanto tempo."

Contagia. A presidente Dilma Rousseff está "preocupada" com a situação no Chipre e um eventual impacto de uma nova desestabilização europeia na recuperação da economia brasileira. Em Roma, o tema foi debatido com o presidente italiano, Giorgio Napolitano.