Título: Papa vai lavar pés de jovens infratores de jovens infratores
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2013, Vida, p. A14

Cidade do Vaticano

O papa Francisco escolheu celebrar uma cerimônia importante na semana que vem - a missa de Quinta-Feira Santa -na capela de uma prisão juvenil, em vez de celebrá-la no Vaticano ou na Basílica de São João Latrão, em Roma, onde esse serviço religioso costuma ocorrer.

Durante a missa da Quinta-Feira Santa, chamada Missa da Geia do Senhor, ocorre o ritual de lava-pés, que imita o gesto de Jesus Cristo para com seus apóstolos. O papa lavará com água os pés dos 12 menores recluídos nesse centro,que fica na localidade romana de Casal dei Marmo.

O papa argentino surpreende com essa nova decisão já que, até agora, a Quinta-feira Santa se celebrava, pela manhã, na Missa Crismai na Basílica de São Pedro e,pela tarde, na Missa da Ceia do Senhor, na Basílica de São João Latrão.

Desta vez, o Vaticano já havia informado que a Missa da Ceia do Senhor se celebraria também na Basílica de São Pedro e não em São João Latrão - já que o papa, que é também bispo de Roma, ainda não terá tomado posse dessa basílica, que é a catedral da capital italiana. Isso só ocorrerá depois da Semana Santa.

A missa no Instituto Penal de Casal dei Marmo, onde se encontram recluídos menores de ambos os sexos, ocorrerá às 17h30 do horário local, ou 11h30 de Brasília.

A assessoria de imprensa do Vaticano explica que, quando Francisco era arcebispo de Buenos Aires, costumava celebrar a missa da Quinca-Feira Santa em uma prisão, num hospital ou numa casa de acolhimento para pobres ou pessoas marginalizadas.

Com essa missa, "o papa Francisco continua essa tradição, que deve ser caracterizada por um contexto de simplicidade", acrescentou a nota distribuída pelo Vaticano.

Todos os pontífices anteriores de que se tem memória fizeram esse serviço ou na Basílica de São Pedro ou na de São João Latrão. O resto das celebrações da Semana Santa se desenvolverão de forma tradicional. Neste ano, a Semana Santa começa no dia 24 de março, com o Domingo de Ramos, e termina no Domingo de Páscoa, em 31 de março.

Defesa. O prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivei defendeu ontem o papa Francisco das acusações de que ele não teria criticado a repressão durante a ditadura militar de 1976 a 1983 na Argentina. Segundo o ativista de direitos humanos, o agora papa preferiu na época a "diplomacia discreta".

Críticos de Francisco dizem que, na época, ele não protegeu padres que desafiaram ajunta e disse muito pouco sobre a cumplicidade da Igreja durante o regime militar.

"O papa nada tem a ver com a ditadura. Ele não foi um cúmplice do regime", disse Esquivei a repórteres, depois de uma reunião de 30 minutos com Francisco no Vaticano. "Ele preferiu uma diplomacia discreta, perguntar sobre os desaparecidos, sobre os oprimidos. Não há provas de que ele foi um cúmplice porque ele nunca foi um cúmplice. Disso eu tenho certeza", disse. O papa tinha 39 anos na época do golpe e não ocupava cargo de destaque na hierarquia católica./ EFE e Reuters.

Em defesa do papa

Adolfo Perez Esquivel Prêmio Nobel da Paz em 1980

"Ele não foi um cúmplice da ditadura. Preferiu uma diplomacia discreta, perguntar sobre os desaparecidos, sobre os oprimidos."