Título: Dólar supera R$ 2 pela primeira vez desde janeiro
Autor: Werneck, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2013, Economia, p. B4

Pela primeira vez desde 28 de janeiro, o dólar fechou acima de R$ 2. Em meio a tensões sobre a crise do Chipre, a moeda americana subiu 0,75% ontem, para R$ 2,007.0 vaivém da cotação também foi influenciado pelo fluxo cambial negativo. O Banco Central (BC) não interveio no mercado - nem nas operações à vista nem no futuro.

Para o economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora, o BC ficou quieto, só observando, porque, se ofertasse swap cambial (que equivale à venda de dólares), reconheceria que a pressão de alta é derivada do problema de falta de liquidez, decorrente do fluxo cambial interno desfavorável neste ano.

"O problema externo do Chipre sustenta a aversão ao risco e favorece a demanda por dólar. Mas, por trás da disparada da moeda no Brasil, está mesmo a liquidez interna reduzida."

Nehme disse acreditar que, se o dólar à vista abrir hoje acima de R$ 2, o BC deverá intervir logo no começo da sessão. "Com o persistente déficit do fluxo cambial em março, os bancos não parecem mais dispostos a aumentar as posições vendidas em dólar, porque começa a ficar mais presente a incerteza se terão dólares à frente para cobrir suas posições", avaliou Nehme.

De acordo com o Banco Central, o fluxo cambial líquido acumulado na primeira quinzena de março ficou negativo em US$ 990 milhões. No ano até 15 de março, o fluxo cambial está negativo em US$ 3,481 bilhões.

Exterior. O operador Guilherme França Esquelbek, da Correparti Corretora, disse que o mercado de câmbio doméstico se descolou ontem do cenário externo porque está incomodado com a liquidez interna fraca. "O mercado está pedindo liquidez ao BC, porque não enxerga uma melhora de fluxo cambial, mesmo com os embarques da safra em andamento", avaliou.

Esquelbek afirmou que, se o não vender hoje swap cambial, o mercado vai testar um possível novo teto informal, que pode ser de R$ 2,03 no primeiro momento. Segundo ele, o mercado testou ontem se o Banco Central defenderia o nível de R$ 2 como um teto informal da moeda.