Título: Herança maldita da Petrobrás
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2013, Notas e informações, p. A3

O plano de negó­cios da Petro­brás para o pe­ríodo 2013-2017, apresentado na terça-feira aos investidores e ao público em ge­ral, reitera a tentativa da direto­ria presidida por Maria das Gra­ças Foster de corrigir erros de planejamento, na maioria de ins­piração política, cometidos na gestão anterior e que ainda afe­tam duramente os resultados da empresa. É sua herança maldita.

Algumas características do plano anunciado em 2012, mar­cado por forte contenção de des­pesas de custeio e dos investi­mentos, permanecem no novo. Nos próximos cinco anos, a companhia pretende investir US$ 236,7 bilhões, praticamente o mesmo valor previsto para o período 2012-2016. A austerida­de continua sendo a palavra mais freqüente no discurso da presidente e dos diretores da empresa. Os investimentos con­tinuarão concentrados na área de exploração e de produção, em particular o pré-sal.

Mas outras medidas aprova­das pelo Conselho de Adminis­tração da Petrobrás para os pró­ximos cinco anos constituem o reconhecimento implícito das perdas causadas por decisões impostas à empresa pelo gover­no Lula e procuram, na medida do possível, reduzir novas per­das no futuro. Isso é notável na revisão da programação da em­presa para a área de refino.

O caso mais notório de mau investimento nessa área é o da refinaria de Pasadena, no Texas.

Como foi revelado no ano passa­do pelo "Broadcast", serviço em tempo real da Agência Estado, es­sa refinaria foi comprada em 2006 por uma trading belga por US$ 42,5 milhões. No ano se­guinte, a Petrobrás, presidida por José Sérgio Gabrielli, com­prou-a por US$ 1,18 bilhão. Co­mo esses números sugerem, a refinaria não tinha condições de gerar receita suficiente para as­segurar a rentabilidade do negó­cio em prazo razoável.

Por isso, ela foi incluída na lis­ta dos ativos no exterior que a Petrobrás venderia para obter recursos de que ela necessita pa­ra executar seu programa de in­vestimentos. Mas o valor da refi­naria no mercado era obviamen­te muito menor do que o espera­do pela empresa brasileira.

Depois de o Tribunal de Con­tas da União ter iniciado investi­gação sobre essa compra, a Pe­trobrás retirou a refinaria da lis­ta dos ativos à venda, lançou uma baixa contábil de R$ 464 mi­lhões referente à refinaria de Pa­sadena em seu balanço do quar­to trimestre e, como reconhece Graça Foster, será necessário in­vestir dinheiro nela, para torná- la rentável. Se isso der certo, a Petrobrás reduzirá suas perdas com esse negócio nebuloso.

Outras refinarias, decididas de acordo com o interesse políti­co do ex-presidente Lula, conti­nuam a render problemas para a Petrobrás. A cada nova revisão de sua situação, a Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, fica mais cara. No novo plano, seu custo foi estimado em US$ 17,35 bilhões, US$ 250 milhões mais do que no plano anterior. Fruto de um acordo de Lula com o ex-presidente venezuela­no Hugo Chávez, cujo governo deveria responder por 40% do projeto, essa refinaria teve seu custo inicial estimado em US$ 2,5 bilhões. Ou seja, já está cus­tando cerca de 600% mais do que o previsto, sem que a parte venezuelana tenha injetado um único centavo na obra.

As duas refinarias do Nordes­te, a Premium 1, no Maranhão, e a Premium 2, no Ceará - tam­bém decididas no governo ante­rior, por interesse político de Lu­la -, estiveram nos planos de ne­gócios anteriores da Petrobrás. Desta vez, porém, não há mais nenhuma garantia de que elas serão construídas. A empresa es­clareceu que seu destino será de­cidido até julho deste ano.

O motivo do congelamento, ainda que temporário, desses projetos é muito simples: não há certeza de que essas refina­rias são rentáveis. "O desafio agora é viabilizar essas refina­rias para que elas sejam compe­titivas em nível internacional", justificou a presidente da esta­tal. Em outras palavras, é preci­so demonstrar que elas são viá­veis técnica e economicamente, o que, pelo visto, não era certo quando o governo Lula decidiu construí-las.

Com esses problemas, a capa­cidade de refino da Petrobrás crescerá mais devagar, obrigan­do-a a continuar importando de­rivados. A correção dos preços internos dos combustíveis deve reduzir as perdas da empresa e melhorar seus resultados.