Título: Sob pressão, Feliciano diz continuar no cargo
Autor: Bresciani, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2013, Nacional, p. A6

Em dia marcado por novos protestos, cresceu a pressão, ontem, para que o pastor Mar­cos Feliciano (PSC-SP) renun­cie à presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câ­mara dos Deputados. Parla­mentares de vários partidos lançaram uma frente parla­mentar em defesa dos Direi­tos Humanos e o presidente da Casa, Henrique Eduardo Al­ves (PMDB-RN) cobrou do PSC uma solução para o caso.

Entre gritos e palavras de or­dem, a comissão não conseguiu - como anteontem - realizar o debate previsto e Feliciano ficou exatos oito minutos no coman­do da sessão - mas, até o início da noite, não dava sinais de que abandonaria o posto.

A eleição de Feliciano para co­mandar o colegiado tem provo­cado reações negativas de vários movimentos ligados a direitos dos negros e homossexuais, que o acusam de ser racista e homofóbico - em função de declarações suas que circularam em redes so­ciais. Um vídeo divulgado por um assessor do pastor no início da semana, com ataques a deputados que o criticam e a rituais africanos, acirrou ainda mais o embate. Até parlamentares do próprio PSC, incluindo o líder André Moura (SE), já pediram que ele deixe o cargo.

Henrique Alves anunciou, pouco depois, que se reuniria com Feliciano para debater a si­tuação, mas este não apareceu.

O líder do partido e o vice-pre­sidente do PSC, Everaldo Dias Pereira, conversaram com o pre­sidente da Câmara e ficaram de promover um debate na banca­da e com Feliciano. "Fiz um ape­lo ao PSC e mostrei a preocupa­ção com a comissão", disse Alves, prevendo uma solução para os próximos dias.

O lançamento da nova frente parlamentar em defesa dos direitos humanos teve presença do líder do PT, José Guimarães (CE), e do secretário nacional de Justiça. Parlamentares que co­mandam a resistência contra o pastor anunciaram, no ato, que vão acionar a Corregedoria da Casa para investigá-lo sobre o emprego dado a pastores em seu gabinete, além de solicitar inves­tigação criminal sobre o vídeo di­vulgado por seu assessor.

Oito minutos. Tentando ignorar a pressão, na sessão de ontem, o pastor chegou às 14h26 para pre­sidir uma reunião conjunta da Comissão de Direitos Humanos com a de Seguridade Social e Fa­mília. Desde a abertura dos traba­lhos, porém, manifestantes que conseguiram furar o bloqueio da segurança gritaram palavras de ordem e inviabilizaram o deba­te. Passados oito minutos, Feli­ciano passou o comando ao de­putado Henrique Afonso (PV-AC) , justificando que ele era o autor do requerimento para a dis­cussão dos direitos dos portado­res de transtorno mental.

A saída do presidente da co­missão, porém, não foi o suficien­te: os gritos continuaram. Um dos convidados para o debate, Aldo Zaiden, do Ministério da Saú­de, tentou iniciar sua exposição justamente afirmando que os direitos humanos vivem um "retro­cesso" no País. A frase foi inter­rompida por gritos a favor e contra. O debatedor se retirou di­zendo que o deputado Jair Bolso- naro (PP-RJ) o censurou ao pe­dir que tratasse apenas do tema para o qual havia sido convida­do. A sessão foi encerrada, sem debates, em menos de uma hora e os gritos continuaram _ dessa vez, dirigidos a Bolsonaro.

Aessa altura, Feliciano já esta­va no plenário da Câmara, onde passou o resto da tarde. Ele rece­beu conselhos de vários deputa­dos. A maioria, como o líder do PR, Anthony Garotinho (RJ), também evangélico, recomen­dou que deixasse o cargo por já ter conseguido "capitalizar" jun­to a seu eleitorado.

O pastor, porém, resistiu. Alia­dos argumentam que uma desis­tência significaria uma conces­são aos grupos rivais. Outros su­geriram que ele fosse retirado da função, mas essa medida não tem previsão regimental. Legal­mente, Feliciano tem mandato de um ano à frente da comissão.