Título: Presidente de universidade de NY ataca controle da mídia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2013, Nacional, p. A9

O projeto de marco regulatório para a imprensa do Reino Unido, anunciado no início da semana, foi condenado on­tem, no Rio, pelo presidente da Universidade Columbia, de Nova York, Lee C. Bollinger. "Isso é altamente problemáti­co, é o governo controlar a im­prensa", disse ele em seminá­rio que marcou a criação, no Brasil, do centro de estudos Columbia Global Centers La- tin America.

Bollingerfolou no painel Liber­dade de Expressão Global, reali­zado na Associação Comercial do Rio, com organização do Insti­tuto Palavra Aberta. Do debate participaram também o ex-presi­dente do Supremo Tribunal Fe­deral, Carlos Ayres Britto, acadê­micos e jornalistas brasileiros e americanos. O centro brasileiro é o oitavo criado pela universida­de americana fora dos EUA.

"Não estudei afundo o regime proposto, mas posso dizer que sou contra", disse Bollinger. Na segunda-feira, líderes britânicos chegam a um acordo sobre pon­tos de um novo projeto sobre mí­dia - uma reação ao escândalo das escutas ilegais envolvendo o jornal sensacionalista News of the World, que acabou fechado após o episódio. O presidente da Columbia admitiu que pode até haver algum regulamento inter­no para a imprensa, mas não uma intervenção do Estado no setor.

Bollinger criticou também as pressões feitas no Brasil em defe­sa de um regulamento para a im­prensa. "Entendo que há um mo­vimento tentando impor (no Bra­sil) algum tipo de regime regula- tório. Seria um erro. O Brasil é um líder, e criar uma regulação seria um retrocesso", destacou.

Direitos. Em sua participação, o ex-ministro Ayres Britto afir­mou que "aliberdade de expres­são é a expressão da liberdade". Dividindo a questão em dois blo­cos de direitos, ele prosseguiu dizendo que o primeiro deles in­clui temas como proteção à vido privada, à intimidade, à imagem. O segundo é voltado para liber­dade de expressão nos campos científico, intelectual e artísti-co, além da informação jornalís­tica. "E no choque entre os dois prevalece a liberdade de expres­são", destacou. Para o ex-minis­tro do STF, o que é possível fa­zer é debater uma legislação so­bre relações periféricas, como direito de resposta, de indeniza­ção. Sobre o que fazer após o fim da Lei de Imprensa, resumiu: "Não há como completar o que já está completo".

O diretor de Conteúdo do Gru­po Estado, Ricordo Gondour, afir­mou que o Brasil vive um momen­to muito característico. "Temos hoje uma jovem democracia, nos­sa Constituição completa este ano apenas 25 onos. Temos pode­res funcionando, mas ao mesmo tempo temos ainda conceitos não muito bem entendidos pela sociedade em geral, como, por exemplo, o papel do jornalismo", afirmou. E prosseguiu: "O Judi­ciário ainda entende que pode ser capaz de proteger a socieda-de de um potencial mau jornalis­mo, mediante sentenças judi­ciais que caracterizam censura prévia".

Ascânio Seleme, diretor de Re­dação de O Globo, ressaltou que as propostas de regular a mídia "são estranhas à Constituição" e que as pressões nessa direção "são um fator redutor da liberdade de expressão".

A internet foi o tema de Nicholas Lemann, reitor da Escola de Pós-Graduação em Jornalismo da Columbia. Para ele, a internet "erodiu muito" o status econômico das organizações tradicionais do tradicionais: "Estamos no meio de uma verdadeira mudança na qualhá desconexão entre a liberdade de imprensa trazida pela internet e a profissão de jornalista"