Título: Aécio usa mais verba para ir ao Rio que a BH
Autor: Fabrini, Fábio
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2013, Nacional, p. A7

Capital fluminense foi o destino de 63% das viagens de Aécio pagas pelo Senado

Representante de Minas, o se­nador Aécio Neves (PSDB) fez para o Rio de Janeiro 63% das viagens bancadas pela verba de transporte aéreo (VTA) do Senado. Desde o início do man­dato, o presidenciável pagou com dinheiro público 83 voos, dos quais 52 começaram ou terminaram na capital flumi­nense. Na maioria dos casos, embarca rumo ao Aeroporto Santos Dumont, o mais próxi­mo da zona sul da cidade, on­de passou parte da juventude, cursou a faculdade, mantém parentes e costuma ser visto em eventos sociais.

O Senado pagou R$ 33,2 mil pe­los voos a partir do Rio ou para a capital fluminense. Dos 25 que ater­rissaram ali, 22 foram feitos de quin­ta a sábado; dos 27 que decolaram, 22 saíram entre domingo e terça.

Capital do Estado que elegeu Aécio e para o qual, oficialmen­te, o tucano dedica seu mandato, Belo Horizonte foi origem ou destino de 23, ou 27%, dos 83 voos feitos desde 2011. É menos da metade das viagens com che­gada ou partida no Rio.

Segundo a prestação de con­tas, a frequência de Aécio em Be­lo Horizonte foi inferior à de Zezé Perrella (PDT), colega na bancada mineira, que assumiu o car­go seis meses depois do tucano, em julho de 2011. Por ora, ele pe­diu reembolso de 47 passagens, das quais 39, ou 83%, referentes a Belo Horizonte. Ocupante da terceira cadeira de Minas no Sena­do, Clésio Andrade (PMDB) não voou com verba da Casa, segun­do sua prestação de contas.

As passagens de Aécio pelo Rio costumam aparecer em co­lunas e redes sociais que, não raro, registram sua presença em baladas e eventos cariocas nos fins de semana.

Em tom bem-humorado, em 27 de agosto a imprensa do Rio registrou a participação do senador numa celebração do"PC (Par­tido do Chope)", num bar em Co­pacabana, três dias antes. O Sena­do pagou R$ 939 pelo voo entre São Paulo e a cidade naquele dia, uma sexta-feira, e mais R$ 172 pe­lo trecho Rio-Belo Horizonte na segunda-feira seguinte.

De 24 para 25 de novembro de 2011, quinta para sexta, o tucano foi fotografado em casa noturna de São Paulo deixando o aniversário do piloto Dudu Massa, na companhia de uma socialite. No sábado, foi para o Rio com passagem que custou R$ 420 ao Senado.

Em 2013, Aécio bateu até mesmo senadores fluminenses na apresentação de passagens para o Rio. Até quinta-feira, sua pres­tação de contas registrava cinco voos para ou a partir da cidade, ante um de Lindbergh Farias (PT), pré-candidato ao Palácio Guanabara. O tucano "empata" com Francisco Dornelles (PP), que também voou cinco vezes; e "perde" para Eduardo Lopes, do PRB, que pediu reembolso de 11 passagens.

"Quarto senador". Não só pela presença na cidade, mas por um gesto no plenário, em 2011, Aécio ganhou no Senado o apelido de "quarto senador do Rio".

Na discussão sobrea redistribuição dos royalties, votou pri­meiro em favor de proposta de Dornelles que mantinha recei­tas dos Estados produtores, en­tre eles o Rio. Dizia que o texto assegurava mais ganhos a toda a Federação.

Segundo a assessoria de impren­sa do Senado, a verba de passa­gens aéreas pode ser usada em to­do o território nacional, desde que para "atividades parlamentares".

O valor a que cada parlamentar tem direito corresponde a cinco voos mensais entre Brasília e a ca­pital do Estado que o elegeu - no caso de Minas, é de R$ 13,4mil. Co­mo o natural é que cada senador tenha a maioria dos compromis­sos parlamentares no Estado que representa, essa é a referência.

O gabinete de Aécio alega que o senador tem residência fixa em Brasília, Belo Horizonte e Rio - onde residem sua filha e sua família -, onde passa os fins de semana. Sua assessoria sus­tenta que ele tem atividades co­mo "parlamentar e agente políti­co" nas três cidades. Mas não in­forma quais foram os compro­missos de Aécio no Rio.

O Estado enviou a lista dos voos na quarta-feira passada soli­citando o detalhamento, mas não obteve resposta.

Cota. A verba de transporte aé­reo integra, desde 2011, a chamada Cota para Exercício de Ativida­des Parlamentares. Além do va­lor das passagens, esse guarda-chuva abriga a antiga verba indenizatória, de R$ 15 mil mensais para cada senador, que cobre, por exemplo, a manutenção de escritórios políticos e divulgação do mandato.

Na prática, não há fiscalização efetiva sobre gastos com viagens dos parlamentares. Procurada na terça-feira passada, a assesso­ria de imprensa do Senado se ne­gou a responder a perguntas do Estado sobre o uso da verba pe­los senadores.