Título: Grupo investiga relatos de tortura de crianças
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2013, Nacional, p. A6

O Grupo de Trabalho Ditadura e Gênero, encarregado de pesqui­sar a violência cometida contra as mulheres por agentes de Esta­do, também vai investigar os ca­sos de violências contra crian­ças. "Já começamos a coletar re­latos de prisões e tortura de crianças", disse a pesquisadora Glenda Mezzaroba.

De acordo com suas informa­ções, há relatos de crianças que foram levadas à prisão para ve­rem os pais torturados. Tam­bém surgiram casos em que avio- lência não era tão explícita. "Quando famílias de opositores da ditadura eram banidas do País, as crianças eram fotografadas vestindo apenas calcinhas ou cuequinhas", informou. "Es­sas fotos, que estão sendo locali­zadas nos arquivos dos órgãos de repressão, são a prova de um tipo de violência que se pratica­va contra as criança."

Segundo a ex-presa política Crimeia Schmidit de Almeida, era co­mum a violência contra as mulhe­res se estender aos seus filhos.

Integrante da Guerrilha do Araguaia, Crimeia estava grávi­da quando foi detida por agentes da repressão, em 1972. Na quinta- feira, em depoimento perante a Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, na Assembleia Le­gislativa, ela contou que a sua condição não impediu que fosse submetida a sessões de tortura.

"Eles me torturaram bastan­te, apesar da barriga grande", contou. "Um médico que dava assistência à tortura, dizia que eu aguentava, mas que não po­diam bater na barriga, pendurar no pau de arara e nem dar cho­que na vagina. Por causa disso eu levei muito choque e pancada nas mãos, nos pés, na cabeça."

De São Paulo, Crimeia foi levada para uma prisão em Brasília, onde nasceu seu filho. Conforme seu relato, um pouco antes do nascimento, quando solicitou so­corro e não foi atendida, ela disse ao obstetra de plantão na prisão: "Meu filho vai morrer." E ele teria respondido: "Não tem problema. É um comunista a menos."

Após o nascimento, relatou Crimeia, ela foi submetida du­rante vários dias a torturas psico­lógicas. "Diziam que iam man­dar meu filho para a Febem e que eu nunca mais iria encontra-lo. Depois eu descobri que ele esta­va na enfermaria, mas dopado, com doses pediátricas de Diazepan."O filho de Crimeia sobrevi­veu e hoje tem 40 anos. /r. a.