Título: Laudo revela que Ades foi envasado com água e soda cáustica
Autor: Lenharo, Mariana ; Moreira, Rene
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2013, Vida, p. A22

Vigilância Sanitária de MG conclui que erros mecânico e humano causaram contaminação; Unilever fala em 3 falhas

Laudo da Superintendência da Vigilância Sanitária de Minas Gerais divulgado ontem sobre a contaminação na fábrica da Unilever de Pouso Alegre (MG) aponta que, no lugar de suco Ades, 96 caixas foram envasadas comhidróxido de sódio (2,5%), a popular soda cáustica, e água. Isso teria ocorrido em razão de falhas mecânica e humana.

O laudo estadual agora será encaminhado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que definirá as penalidades. Mas a vigilância já apontou que a linha de produção deve permanecer paralisada até que sejam tomadas diversas medidas preventivas na fábrica que impeçam novas contaminações como a que veio à tona na semana passada, com um lote de 1,5 litro de suco de soja de maçã.

Entre outras coisas, a Unilever terá de fazer uma revisão completa de todos os equipamentos, sensores e software do processo de fabricação do Ades.

A empresa precisará ainda aumentar o número de amostras coletadas durante o envase e alterar o período de retenção dos produtos acabados antes dalibe-ração ao mercado. Outra exigência é a revisão e implementação de um procedimento de liberação da produção após o sistema de higienização. Por fim, a companhia precisará introduzir um dossiê diário de qualidade com a assinatura dos gerentes.

Na primeira entrevista após o caso, o presidente da Unilever, Fernando Fernandez, afirmou ontem ao Estado que uma sequência de três falhas levou à contaminação de um lote do suco. “Foi um problema pontual de qualidade que nãovoltará a se repetir, mas pelo qual pedimos as máximas desculpas”, afirmou.

A primeira delas, segundo Fernandez, ocorreu ao final de uma etapa de produção quando o maquinário passa por um procedimento de limpeza com solução de soda cáustica. Um funcionário não percebeu que a etapa estava concluída e acionou a máquina para continuar envasando o produto. A segunda falha se deu quando o equipamento permitiu o envasamento mesmo estando em modo de limpeza. Por isso, a soda cáustica acabou envasada.

A terceira falha ocorreu pelo fato de o funcionário não ter colhido uma amostragem para verificar a qualidade do produto, procedimento-padrão. Isso fez com que as unidades contaminadas chegassemaos consumidores. De acordo com a empresa, amáquina permaneceu envasando a substância errada durante 80 segundos, o que resultou em até 96 caixas impróprias para o consumo.

Apesar de a Anvisa ter determinado a suspensão de todos os lotes do produto com iniciais AG, a Unilever garante que apenas o lote AGB 25, que corresponde às 96 unidades, foi afetado. Fernandez afirma que, para reconquistar a confiança dos consumidores, a empresa adotou quatro medidas para assegurar que a falha não vai ocorrer novamente. Haverá uma revisão completa dos equipamentos; o plano de amostras para controle de qualidade também será mais rígido; a “quarentena” do produto (período em que permanece na fábrica antes de ser distribuído) vai aumentar de 7 para 10 dias e haverá uma revisão do procedimento de limpeza. Por último, passará a ser feito um dossiê diário de qualidade.

Segundo a empresa, o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da Unilever, que conta com 160 pessoas, foi triplicado e 4 mil pessoas foram encarregadas de ir às ruas para retirar dos mercados o lote impróprio.

Lote. O caso veio à tona no dia 15, quando a Unilever anunciou o recall de 96 unidades do suco Ades. Olote contaminado é composto por caixas de 1,5 litro do sabor maçã. Na ocasião, a empresa divulgou que os produtos tinham sido envasados acidental-mentejunto com um produto de limpeza, cujo consumo poderia provocar queimadura.

No dia seguinte, a Anvisa pediu à vigilância de Minas que fizesse umavistoria na fábrica onde ocorreu o acidente, em Pouso Alegre. No dia 18, resolução da Anvisa determinava a suspensão davenda detodosos lotes do produto com as iniciais AG.

Apesar de a suspensão valer apenas para os lotes citados pela Anvisa, muitos supermercados, lanchonetese restaurantes optaram por retirar todos os produtos Ades de suas prateleiras.

Suco contaminado

Até agora, 16 pessoas relataram queimaduras na boca e náuseas após consumir o suco. O número pode aumentar porque, das 96 unidades contaminadas, menos de 50 foram localizadas e recolhidas até o momento.