Título: Ao lado de Obama, premiê de Israel telefona a colega turco e se desculpa
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2013, Internacional, p. A25

Visita. Sob intermediação de líder americano, Netanyahu fala por 30 minutos com primeiro-ministro de Ancara e pede perdão por episódio de 2010 envolvendo flotilha que tentava chegar a Gaza; pedido de desculpas era condição para reaproximação dos ex-aliados

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, desculpou-se ontem-em um telefonema a seu colega turco, Recep Tayyip Erdogan - pelo mortífero ataque contra uma flotilha de ajuda humanitária a Gaza, em maio de 2010, num inesperado passo na direção da reconciliação entre Israel e Turquia, intermediado pelo presidente Barack Obama. A conversa entre os líderes foi anunciada pelo americano.

Na chamada de 30 minutos, feita de um trailer no aeroporto de Tel-Aviv momentos antes de Obama partir de Israel para a Jordânia, Netanyahu lamentou o incidente em que as forças de Israel mataram nove turcos e feriram dezenas de cidadãos de diversas nacionalidades, que tentavam furar o bloqueio que Israel impõe ao território palestino. Desarmados, os ativistas levavam ajudahumanitária aos moradores da Faixa de Gaza.

Ao lado de Obama - que chegou, em certo momento, a conversar com ambos os líderes durante o telefonema -, o premiê israelense ofereceu compensação pelo ataque ao navio Mavi Marmara e, após uma espera de quase três anos por um pedido público de desculpas pelas mortes, Erdogan aceitou o gesto de Israel.

"Saúdo o telefonema entre o primeiro-ministro Netanyahu e o primeiro-ministro Erdogan. Os EUA valorizam profundamente suas próximas parcerias com Turquia e Israel - e damos grande importância à restauração de relações positivas entre os países para o avanço na paz regional e na segurança. Tenho esperança que o intercâmbio de hoje (ontem) entre os dois líderes vai possibilitar que eles se engajem em uma cooperação mais profundanesse (o ataque contra a flotilha) e em uma gama de outros desafios e oportunidades", disse Obama em um comunicado emitido pouco após a conversa entre os premiês.

"O primeiro-ministro Netanyahu assinalou que Israel tem levantado substancialmente as restrições à entrada de mercadorias de caráter civil nos territórios palestinos, incluindo Gaza, eisso continuará enquanto a calma prevalecer", declarou o governo israelense.

Segundo o gabinete turco, Erdogan disse a seu colega "que valoriza a forte amizade e cooperação, de séculos, entre as nações turca e judaica".

Com raízes políticas islamistas, o premiê da Turquia já acusou Israel de praticar "terrorismo de Estado" em Gaza e, em 2009, abandonou o recinto durante um debate com o presidente israelense, Shimon Peres, em Davos, depois de se enfurecer em uma discussão sobre o território palestino.

As posições anti-Israel de Erdogan lhe renderam elogios em seu país, onde há uma forte simpatia dapopulação com os palestinos, e também nas nações da região. O primeiro-ministro turco foi recebido como herói na Turquia após visitar Egito, Líbia e Tunísia em20ii, depois dos primeiros desdobramentos políticos da Primavera Árabe.

Após o ataque israelenses contra a flotilha, a Turquia rompeu laços diplomáticos com Israel e, em novembro, a Justiça turca processou à revelia quatro ex-funcionários do governo israelenses pelas mortes.

O fluxo de negócios entre os países se manteve aberto e seu intercâmbio comercial prosperou - atingindo um recorde de US$ 4,4 bilhões em 2011, segundo dados oficiais do governo turco, e mantendo-se no mesmo nível no ano passado. Mas turistas israelenses, que já tiveram na Turquia uma de seus destinos preferidos, passaram a evitar o país.

Diante da crise síria, em que tanto turcos como israelenses pedem a deposição do ditador Bashar Assad, a reaproximação entre Israel e Turquia demonstra que ambos os governos optam por tratar de questões estratégicas à frente de políticas domésticas, dizem analistas. /nyt