Título: Argentina volta a atacar mercado de câmbio doméstico
Autor: Guimarães, Marina
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2013, Economia, p. B12

Nova medida para controlar a entrada de dólares no país atinge investimentos de fundos mútuos em ações de empresas estrangeiras

O governo argentino de Cristina Kirchner baixou, ontem, nova medida para endurecer o controle do mercado de câmbio doméstico. Desta vez, a decisão afeta o investimento que os fundos mútuos podem realizar em ações de companhias estrangeiras cotadas na Bolsa de Buenos Aires. A medida obriga os fundos a reservar 75% de seu portfólio para ações de empresas argentinas.

O governo entende que limitar a porcentagem máxima de investimento nos papéis chamados de Certificados de Depósito Argentino (Cedears) permitirá “uma adequada canalização da poupança nacional para o desenvolvimento produtivo”.

Os fundos compram os Cedears utilizando pesos. Os papéis são transferidos para o exterior e vendidos em dólares. “Era uma das duas maneiras que os investidores usavam para ter dólares e deixá-los no exterior”, comentou ao Estado o economis-ta-chefe da mesa de um banco estrangeiro.

A fonte explicou que a medida corta o mecanismo que o mercado estava usando para tirar dólares, conhecida como “bicicleta financeira”. O uso do instrumento havia aumentado no último ano e meio, em conseqüência do férreo controle oficial do câmbio, que já estabeleceu 26 tipos de restrições no período.

Fuga. Desde que a presidente Cristina Kirchner foi reeleita em 27 de outubro de 2011, com 54% dos votos, a fuga de divisas se tornou tenaz e os controles abundantes.

As medidas para segurar-os dólares no país incluem veto à distribuição de lucros e dividendos por parte das empresas e remessas ao exterior; barreiras contra as importações; restrição total à compra de dólares para formação de capital; fim do uso do dólar em transações imobiliárias e várias outras proibições.

A medida ocorre em momentos de disparada do dólar paralelo, que atingiu na quarta-feira a cotação máxima de 8,75 pesos, como reação à decisão que elevou de 15% para 20% a taxa sobre compras de pacotes turísticos e passagens internacionais e gastos com cartões de crédito e débito no exterior.

Depois de chamadas telefônicas do governo, os cambistas baixaram a cotação até fechar a semana em 8,42 e 8,48 pesos, respectivamente. O dólar oficial, por sua vez, subiu um centavo e fechou em 5,065 (compra) e 5,120 (venda). Os investidores temem uma maxidesvaloriza: ção do peso.

A nova decisão do governo tem o objetivo de dar liquidez ao mercado financeiro local porque obriga os fundos a desfazer suas posições e reinvestir no mercado doméstico. A norma da Comissão Nacional de Valores detalha que o limite fixado do patrimônio do fundo “deve ser investido em ativos autorizados emitidos e negociados na Argentina ou no Brasil, Paraguai, Uruguai e Chile”.

Com essa limitação, o governo praticamente fecha uma das únicas brechas legais para a aquisição de divisas e muito usada para proteger os investimentos do risco cambial doméstico.

Agora, só resta o uso dabicicle-ta financeira por meio da compra de títulos da dívida argentina no mercado local para sua posterior revenda no exterior. O mecanismo é similar ao dos Cedears, com a diferença que a compra de bônus soberano não pode ser considerado um investimento externo.

--------------------------------------------------------------------------------