Título: PSC ignora protestos, banca Feliciano e cobra apoio de Dilma para superar crise
Autor: Bresciani, Eduardo ; Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2013, Nacional, p. A4
Legislativo. Partido ligado a igrejas evangélica que agora comanda Comissão de Direitos Humanos da Câmara lembra ter apoiado eleição da presidente em 2010 "mesmo diante das declarações de que ela não sabia se acreditava em Deus e que não era contra o aborto"
O PSC decidiu ontem sustentar o pastor Marcos Feliciano (SP) na presidência da comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara e, enfatizando a condição de aliado do governo, fez uma cobrança explícita ao PT e mais especificamente à presidente Dilma Rousseff por apoio ao parlamentar. "Mesmo diante das declarações de que ela não sabia se acreditava em Deus e que não era contra o aborto, o PSC apoiou a presidente Dilma, sem discriminá-la por pensar diferente de nós", diz trecho de nota do PSC.
Com a decisão, o PSC ignora pressões de setores da sociedade civil, de partidos e até mesmo da presidência da Casa para que o parlamentar fosse substituído. Na mesma nota em que defendem a manutenção de Feliciano, o PSC ressaltou que "democracia é voto, não grito", lembrando que o pastor foi eleito por maioria dos colegas.
O "dia do fico" de Feliciano ocorreu após reunião de toda a bancada de 16 deputados do PSC ontem à tarde, da qual Feliciano participou. A legenda ignorou os apelos do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e, destacando a posição de aliado do governo federal, cobrou apoio do PT para superar a crise.
A bancada evangélica também se engajou na defesa do pastor. Desde que foi eleito, Feliciano tornou-se alvo de protestos de ativistas de direitos humanos e representantes de minorias e o colegiado num funcionou com normalidade. A reação ocorre porque o deputado já deu declarações públicas que foram consideradas homofóbicas e racistas.
A pressão sobre Feliciano cresceu desde a semana passada e chegou a uma situação tida como "insustentável" pelo presidente da Câmara. Ele pediu ao PSC que convencesse Feliciano a deixar a função.
O líder da bancada, André Moura (SE), pediu ao pastor que reavaliasse sua situação, mas Feliciano insiste em ficar e costurou apoios dentro do partido. Também pastor, Everaldo Pereira, vice-presidente e principal cacique do PSC, foi o responsável por ler uma nota em nome do partido defendendo o filiado. "Feliciano é um deputado ficha- limpa, tendo então todas as prerrogativas de estar na Comissão de Direitos Humanos e Minorias", disse Pereira.
No texto lido pelo vice-presidente do PSC, o partido faz um histórico da parceria com PT para alfinetar petistas que comandam parte das manifestações contra Feliciano. O PSC destacou ter apoiado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 1989 e ter feito aliança com o partido por vários anos, inclusive apoiando a presidente Dilma, que teria ideais diferentes da legenda.
A decisão do partido foi levada a Henrique Alves pelo líder do PSC ao plenário da Casa. O presidente da Câmara, diante do fato, disse que respeitaria a posição do PSC. Como foi eleito, Feliciano só sai da comissão se renunciar. Com o suporte do PSC, essa possibilidade é remota.
Reação. Alves convocou os líderes para debater o tema após a decisão do PSC e recebeu um alerta da bancada evangélica que o uso de alguma medida de força poderia criar um problema ainda maior. O coordenador da bancada, João Campos (PSDB-GO), disse que os evangélicos farão uma defesa "veemente" de Feliciano e vão usar o regimento para deter protestos que posam inviabilizar o funcionamento da comissão
Indonésia e chumbo. Com aval do PSC, Feliciano falou sobre seus planos. Ele vai se encontrar com o embaixador da Indonésia para discutir a situação de brasileiros condenados a morte naquele país e pretende comandar a reunião na tarde de hoje para debater os efeitos da contaminação de pessoas por chumbo numa cidade do interior da Bahia. Ele disse que vai preparar com cautela a sessão de hoje.