Título: Campos e ministra travam duelo sobre portos
Autor: Madueño, Denise ; Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2013, Nacional, p. A6

Aliados políticos hoje, mas possíveis adversários em 2014, o go­vernador de Pernambuco e provável candidato à Presidência, Eduardo Campos (PSB), e a mi­nistra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, pré-candidata petista ao governo do Paraná, trava­ram ontem um duelo no último debate sobre a Medida Provisó­ria dos Portos, que cria um mo­delo de exploração direta e indi­reta, pela União, de portos e ins­talações portuárias do País.

Contrário à MP pelo fato de ela tirar dos Estados o poder de reali­zar licitações dos novos termi­nais portuários, Campos questio­nou a competência do governo Dilma Rousseff de tomar deci­sões corretas e rápidas. "Confio muito mais nas decisões do Por­to de Suape do que nas da Antaq (Agência National de Transportes Aquaviários), que leva dois anos para decidir um processo e nem consegue preencher os cargos de seus diretores, estando atual­mente com três interinos", disse o governador, citando o principal porto do Estado de Pernam­buco. "A Antaq não é uma boa professora de gestão pública", afirmou. "Se há um porto cons­truído por ação dos pernambuca­nos é o porto de Suape."

O governador disse ainda que a MP, editada no fim do ano pas­sado, foi elaborada sem um diálo­go com os Estados. De forma in­direta, sugeriu que há interesses políticos do governo na medida.

Ao propor um diálogo com o Planalto, assim como os trabalha­dores nos portos e os empresá­rios do setor ouvidos pelo gover­no, Campos afirmou: "Não há governo querendo ofender a federação e o Estado (de Pernambuco) é um aliado do governo". E completou:"Não tem problema de caráter político, imagino eu".

Resposta. Em sua fala, Gleisi reagiu ao governador e defendeu a centralização, que, segundo o governo, facilitará a adoção de uma política única de gestão em todo o País. "Com todo respeito. Não podemos estabelecer um marco regjilatório para os portos partindo de Suape. Já vive­mos no modelo de descentraliza­ção e ele não atendeu às deman­das que o País tem", afirmou.

Gleisi divulgou informações técnicas sobre a questão, mas deu ênfase a uma resposta políti­ca ao governador. Ela começou o contra-ataque com uma defesa da política de infraestrutura do governo do antecessor e padri­nho político de Dilma, Luiz lnácio Lula da Siiva. "O tema portos tem sido prioridade desde que entrou na agenda do governo Lula e ldepois no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), dis­se. "As iniciativas não nasceram de um momento para outro, nas­ceram de uma reflexão profunda e de estudos", afirmou a minis­tra, segundo quem foram ouvi­dos "todos os setores envolvi­dos". Ela disse ainda que as ações contrárias à MP são motivadas por interesses individuais. "Esse setor é diversificado, tem vários atores, cada um tem uma forma de olhar e um interesse", afir­mou ela, em clara referência ao governador de Pernambuco.

Gleisi afirmou ainda que não aceitará a retirada de Suape da abrangência da MP, como Cam­pos chegou a sugerir. "Não pode­mos tratar um porto de maneira isolada, por mais eficiente que se­ja", disse a ministra. "Lógica na­cional é fundamental para eficiên­cia do sistema portuário", disse.