Título: Taxas de juros cobradas pelos bancos sobem pelo segundo mês seguido
Autor: Froufe, Célia ; Cucolo, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2013, Economia, p. B5

A trajetória de queda dos juros nos empréstimos à vista em 2012 foi interrompida, admitiu ontem o Banco Central. Por causa da expectativa de elevação da taxa de juros básica da economia, a Selic, os bancos já estão pagando mais caro para captar dinheiro, E o custo foi repassado ao tomador de crédito. Mesmo com o juro mais salgado, porém, o Banco Central estima que o volume de financiamentos crescerá 14% este ano.

Em fevereiro, a taxa de juros média dos recursos que podem ser utilizados para qualquer tipo de financiamento, o chamado crédito livre, subiu a. 26,296 ao ano. No fim do ano passado, estava em 25,3% ao ano. O consumidor pessoa física é quem paga mais, com taxa média de 35,1% ao ano. Já no mundo corporativo o juro encerrou o mês passado em 18,9% ao ano.

Essa diferença reflete, em grande parte, a inadimplência, que fechou fevereiro em 5,6%. Apesar de o calote das empresas se manter em 3,7% por quatro meses, a falta de pagamento pelo consumidor ainda é mais alta, embora esteja em processo de queda. Atingiu 7,7% em fevereiro, a menor marca desde dezembro de 2011.

"Por ora, o que temos observado é uma interrupção do declínio da taxa de juros vista desde o início do ano passado. Esse comportamento endossa a ideia de que as taxas de juros encontraram novo patamar", avaliou o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.

Para Maciel, esse comportamento, apesar de marginal, pode estar relacionado com a segunda alta seguida dos custos dos bancos em obter dinheiro, atualmente em 8,2%. E teria ligação com a perspectiva de que a Selic sairá dos 7,25% ao ano para um nível maior até dezembro - 8,5%, segundo a última pesquisa Focus.

A equipe de economistas da Rosenberg & Associados destacou ontem que as taxas de juros de mercado ainda estão em nível historicamente baixo, mas começou a haver uma reversão do movimento, "já pressentindo a alta da Selic num futuro próximo".

Essa é a avaliação mais consensual no momento, até porque o spread, que é a diferença entre o que os bancos pagam para obter recursos e o que cobram dos clientes, também está em queda. Em fevereiro, chegou a 18,2 pontos porcentuais. Para o ministro da Fazenda interino, Nelson Barbosa, o spread "tende a se manter num patamar mais baixo do que foi obtido nos últimos meses". Ele atribuiu essa redução aos bons resultados dos bancos públicos e à expansão de crédito.

No mês passado, o saldo de crédito do sistema financeiro chegou a R$ 2,383 trilhões, 0,7% mais que em janeiro. O volume de novos recursos emprestados apenas em fevereiro foi de R$ 253 bilhões. "O crédito à pessoa física e os saldos das carteiras subiram e continuamos com bons sinais no financiamento imobiliário", disse o diretor de empréstimos e financiamentos do Bradesco, José Ramos Rocha Neto, que também prevê expansão do crédito em 2013. / Colaboraram Ricardo Brito e Aline Bronzati