Título: Brics decidem criar socorro cambial de até US$ 100 bi
Autor: Dantas, Iuri ; Travaglini, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2013, Economia, p. B11

Arranjo de reserva de contingência será um contraponto ao FMI, mas não deve sair do papel antes de 2015, diz o ministro Mantega

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem que os Brics chegaram a um consenso sobre a necessidade de criar uma linha de socorro cambial, em contraponto ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na prática, porém, o chamado "Arranjo de Reservas de Contingência" (CRA, na sigla em inglês) não sai do papel durante o mandato da presidente Dilma Rousseff, que se encerra em dezembro do ano que vem, segundo fontes que participam da 5.a reunião de cúpula do grupo, composto por Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul.

O assunto foi debatido na manhã de ontem por ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do quinteto. A ideia é criar um mecanismo de até US$ 100 bilhões, mas a proposta de tornar o instrumento operacional em 2014 foi descartada. No mesmo encontro, as equipes econômicas dos Brics concluíram ser tecnicamente possível criar um banco de desenvolvimento do grupo, mas isso também ficará no papel até 2016.

Os participantes da reunião, a julgar pelos relatos ouvidos pela reportagem, concordam: os Brics precisam de uma rede de proteção cambial para casos de emergência. A oposição ao FMI se explica pelas condicionantes exigidas pelo Fundo, geralmente reformas consideradas liberais, em troca do dinheiro. Em 1998, o Brasil recebeu US$ 41 bilhões do FMI, mas em troca teve de se comprometer com câmbio flutuante e uma política fiscal austera, entre outras exigências. "Vamos indicar aos nossos líderes que estamos em condições de levar adiante esse CRA", afirmou Mantega ontem. "É mais uma retaguarda financeira."

Mecanismo. O instrumento não seria, como muitos esperavam, uma espécie de fundo ou reserva. Será um compromisso, um tipo de empenho de cada um dos Brics de manter um certo valor disponível para ó caso de necessidade, como uma crise no balanço de pagamentos, por exemplo. Ou seja, o dinheiro continuará nas reservas internacionais de cada país e ainda não há critérios sobre quando e como usar e os limites para os eventuais aportes. A cifra de US$ 100 bilhões inclui maior injeção de dinheiro da China, que tem as maiores reservas cambiais do mundo, ultrapassando US$ 3 trilhões.

Fontes diplomáticas relatam, no entanto, enorme dificuldade para consensos mínimos entre os integrantes do grupo, já que as necessidades de Rússia e África do Sul, por exemplo, .costumam ser bem díspares..Nesse ponto empacou a proposta de criação do banco de desenvolvimento do grupo.

Mantega classificou a criação do banco como "necessidade". "Um consenso entre todos é que os estímulos têm de caminhar pelo lado do investimento em infraestrutura", disse ele. "A segunda questão que resulta disso é como financiar esse aumento dos investimentos em infraestrutura, e daí uma das respostas é o nosso banco de desenvolvimento. Chegamos à conclusão de que é necessário termos um banco de desenvolvimento dos Brics, embora já existam outras estruturas de financiamento."