Título: Coreia do Norte põe mísseis em alerta após voo de bombardeiros dos EUA
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2013, Internacional, p. A8

Dois bombardeiros "invisíveis" dos Estados Unidos, capazes de lançar armas nucleares, realizaram ontem seu primeiro voo sobre a Península Coreana. Em resposta, o ditador Kim Jong-un ordenou que baterias de mísseis norte-coreanas ficassem em alerta para abrir fogo contra bases dos EUA na Coreia do Sul e no Oceano Pacífico.

Na quarta-feira, Pyongyang já havia cortado seu último canal de comunicação militar com o Sul, dizendo a guerra poderia começar "a qualquer momento". A decisão de colocar em alerta suas forças veio após uma reunião de emergência convocada para analisar o sobrevoo dos bombardeios americanos.

Os B-2 saíram de uma base no Missouri e voaram até a Coreia do Sul para integrar os exercícios conjuntos que as Forças Armadas dos dois países realizam desde o início do mês, segundo informação divulgada pelo comando militar americano em Seul.

O principal objetivo da operação é enviar a Pyongyang a mensagem de que os Estados Unidos usarão seu poderio militar para proteger Seul de um eventual ataque do país vizinho.

O comunicado ressaltou que os bombardeiros B-2 são um “im­portante elemento” da capacida­de de dissuasão dos Estados Uni­dos na região Ásia-Pacífico e po­dem realizar ataques precisos e de longo alcance. Os aviões são equipados com instrumentos que evitam sua detecção por ra­dares, o que permite que entrem no espaço aéreo de outros países sem serem notados.

Nos exercícios de ontem, os jatos percorreram 10,5 mil quilô­metros desde Missouri e lança­ram artefatos sem munição em território sul-coreano.

Realizados todos os anos, os exercícios militares conjuntos dos EUA e da Coreia do Sul estão entre os maiores do gênero em todo o mundo e mobilizam cerca de 200 mil soldados por um mês.

O secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, disse que o envio dos bombardeios Stealth à Coreia do Sul fez parte de um exercício militar normal e não te­ve a intenção de provocar uma reação da Coreia do Norte.

Hagel disse ontem que as ações e o tom beligerante da Co­reia do Norte nas últimas sema­nas aumentaram a tensão na re­gião. Ele acrescentou que os EUA estão preparados para de­fender seus interesses e os de seus aliados.

O secretário de Defesa decla­rou que há vários fatores “desco­nhecidos” com relação à Coreia do Norte.

Ataques preventivos.

O regi­me norte-coreano intensificou sua retórica bélica desde que as operações tiveram início e anun­ciou que estava abandonando o armistício que, em 1953, colocou fim à Guerra da Coreia. O con­fronto de três anos não termi­nou com um acordo de paz, o que em tese mantém os dois paí­ses e os americanos em um esta­do de guerra.

Pyongyang ameaçou realizar ataques nucleares preventivos contra os Estados Unidos e a Co­reia do Sul e, na terça-feira, anun­ciou que sua artilharia estava pronta para atingir alvos no Ha­vaí e em Guam. Mas é altamente improvável que o regime cum­pra suas promessas, já que isso implicaria um suicídio político, dada a supremacia militar de seus adversários.

Citando uma autoridade não identificada do Ministério das Relações Exteriores, a agência de notícias sul-coreana Yonhap disse ontem que o governo de Seul está preocupado com a “crescente incerteza” nas rela­ções com Pyongyang. A potência nuclear é comandada há pouco mais de um ano por Kim Jong-un, o jovem de 30 anos que repre­senta a terceira geração da dinas­tia fundada por seu avô em 1948.

Apesar da agressividade ver­bal da Coreia do Norte, centenas de sul-coreanos entraram on­tem no país para trabalhar no complexo industrial de Kae-song, que é o maior símbolo de cooperação econômica entre os dois lados da península.